
Embora seja difícil definir, estruturar ou explicitar, a Espiritualidade Scalabriniana já é uma realidade e não apenas um projeto, porque são muitos os homens e as mulheres que assumem em suas vidas este modo de viver no Espírito com um olhar amoroso aos migrantes. São João Batista Scalabrini é a inspiração e o modelo. Ele experimentou a intimidade com Deus e permitiu que o Espírito Santo o interpelasse, levando-o a ver a realidade dos migrantes muito melhor do que outras pessoas do seu tempo e a agir de forma a minimizar o drama de quem emigrava. Eis a prática determinada pela Vida no Espírito.
Nesta reflexão enfatizamos a Espiritualidade Scalabriniana pensada a partir dos jovens e para os jovens. Há um ponto de conexão entre espiritualidade e juventude, uma característica comum que une o Espírito Santo e o jovem: a vivacidade da Graça de Deus. Uma qualidade essencial da Graça é o seu vigor divino capaz de renovar e transformar tudo, manifestando sua beleza sempre jovem. A sabedoria popular afirma com razão que “não envelhece nunca quem tem Deus no coração”. Pode haver tristeza numa casa repleta de crianças e jovens? Pode haver tristeza num coração inundado de Deus? A Graça, assim como a juventude, é exuberância, dinamismo e abertura.
Esta abertura para a vida, para a beleza, para Deus e para os outros, possibilita pensarmos numa Espiritualidade Scalabriniana a partir dos jovens e para os jovens. Os jovens são abertos e dispostos a acolher. Jovens abertos e acolhedores acreditam na universalidade da compaixão e da fraternidade e desconfiam dos muros. Os muros separam os jovens da vitalidade do mundo, da relação com outras pessoas. A vivacidade juvenil deseja ultrapassar todas as formas de muros porque os jovens têm sede de horizonte. Assim, a juventude tem em si a predisposição para o Carisma Scalabriniano. A abertura e a acolhida são características deste Carisma que se opõe aos muros erguidos para separar pessoas, para limitar fronteiras. Se, por um lado, é impossível suprimirmos as “fronteiras”, sejam elas físicas ou de outra ordem, por outro lado, pode-se sempre escolher lutar contra os muros que dividem, barram e excluem.
A Espiritualidade Scalabriniana como horizonte inclui o “caminho”, o “movimento”, a “Estação”. A “Estação de Milão” é um símbolo muito estimado pelos Scalabrinianos. Ela é memória do encontro de Scalabrini com migrantes italianos que tomavam o trem até o porto de Gênova: ele viu, sentiu compaixão e agiu. A Estação é símbolo da provisoriedade da partida e da alegria da chegada. O horizonte está à frente, convida a caminhar, a não ficar parado, a olhar para cima e não para os próprios pés. O contrário do horizonte é a acomodação, a estagnação, a incapacidade de sair do próprio quarto para oportunizar encontros, a incapacidade de diálogos, de acolher o movimento. A vivacidade do Espírito de Deus, esta sim, é capaz de sacudir a nossa existência, tirar-nos da zona de conforto e de acomodação e impulsionar-nos para vermos com mais clareza o que está à nossa frente.
A vida no Espírito provoca abrirmos os olhos para vislumbrarmos o horizonte, o qual oportuniza encontros. Os encontros exigem atitudes concretas, sendo uma delas a acolhida. Um dos frutos do Espírito de Deus na nossa vida é a acolhida. Mas acolher quem? Em primeiro lugar, as pessoas que Deus colocou na nossa vida, aquelas com quem moramos, convivemos, trabalhamos, e encontramos todos os dias, mas também aquelas que cruzam o nosso caminho esporadicamente. Não importa se estão perto ou longe, se são conhecidas ou não: todas tem lugar no coração acolhedor do jovem. Se algo podemos aprender dos jovens é a sua disponibilidade para acolher. Atitudes preconceituosas, absolutamente, não combinam com a juventude.
A Espiritualidade Scalabriniana Juvenil poderá ser um modelo para os que aspiram se nutrir desta espiritualidade. Quer dizer que deverá, a partir da Vida no Espírito, ter o olhar límpido para ver mais longe, para ver não apenas a si próprio, mas para enxergar o próximo, o migrante. Estar aberto para o encontro e a acolhida, além de se esforçar para derrubar os muros que separam. A Espiritualidade Scalabriniana desafia a abraçar o horizonte, que significa pôr-se a caminho e abrir-se para a missionariedade.
Eis a atualidade da proposta do Papa Francisco: sermos uma Igreja em saída. Este desafio vem de encontro com a nossa identificação com o carisma scalabriniano de uma Congregação que se põe a caminho, em saída. Assumir na própria vida a Espiritualidade Scalabriniana significa dispor-se para o encontro e para a acolhida. Não podemos guardar as riquezas que nos fazem bem apenas para nós mesmos. Através da nossa vida de fé, alimentada pela espiritualidade, atraímos os outros para degustar o que nós próprios experimentamos: Deus na nossa vida, a nossa luta contra os muros, a busca por acolher as pessoas, em particular, os migrantes.
Se você comunga, de algum modo, com o carisma scalabriniano, certamente já está vivendo uma espiritualidade inspirada em São João Batista Scalabrini: Vida no Espírito, Encontro, Acolhida e Anúncio expresso na missionariedade, ou seja, no ser Igreja em saída.
Por Oscar López Maldonado