
1-SCALABRINI PADRE E BISPO NOS CAMINHOS DO POVO.
Estamos vivendo um tempo de graça do Deus da vida e da misericórdia para com a família Scalabriniana, momento de gratidão para com nosso fundador e santo nos caminhos dos pobres e do povo migrante, presente nos altares das Igrejas e atuante nas cátedras do mundo. Tempo de intercessão à São João Batista Scalabrini junto a Deus, Apòstolo do catecismo e Pai dos Migrantes, modelo de santidade e humanidade, respondeu com firmesa e inteligência, com amor e misericordia aos desafios existenciais.
Ao encontrar-se com famílias desempregadas e desesperadas nas estradas e comunidades de sua diocese ouviu a triste afirmação: “Senhor bispo, ou migrar ou roubar”. Neste momento o bispo emocionado e cheio de compaixão, depois de um abraço, se retira sem dizer nenhuma palavra porque sabia escutar os sentimentos e entender o drama das pessoas vítimas de situações injustas, mas também, protagonistas da sua própria historia deviam seguir caminhado para defender seus direitos e salvar suas vidas e dignidade.
Nos encontros com os surdos-mudos nas famílias da sua diocese, sensibilizou-se e foi ao encontro desta triste situação. Sem hesitar e sem perder tempo, toma a decisão de ajudar este grupo com necessidades especiais criando uma casa de acolhida e assitência.
Na praça da catedral e pelas ruas de cidade e diocese de Piacenza se depara com pessoas em situação de rua empobrecidos e famintos. Nestas ocasiões e situações, também não titubiou em tomar a decisão de vender tudo o que tinha de valor (anel, cálice, patena, cavalos, carroça... (transporte da época), junto com doações e os poucos recursos que dispunha transformou tudo em alimentação e abrigo para esta pobre gente. Teve momentos que distribuiu mais de oitocentos pratos de comida por dia.
Nas ocasiões de encontro nos campos, com desempregados e trabalhadores temporários do carvão e do arroz, Scalabrini sempre sensível e solidário, atento às necessidades das famílias, buscou rapidamente dar respostas concretas criando cooperativas e associações, bem como fez mediação entre os bancos e os trabalhadores para dialogar sobre como renegociar as altas taxas, juros e multas dos trabalhadores sazonais. Tudo isso, para que os dependentes nas famílias pudessem ter o necessário e viver com dignidade.
Nas visitas às famílias e hospitais com os enfermos, idosos e inválidos, sempre teve uma atitude de carinho, cuidado e de muita sensisbilidade para com os mais frágeis e vulneráveis da sociedade. Ao saber da situação dos estudantes sem recursos para estudar, fez empréstimos a longo prazo sem juros para muitos jovens.
Diante dos desastres da natureza organizou campanhas de solidariedade às vitimas, migrantes ambientais e para reconstruir povoados e cidades destruídas. Alguém próximo a Scalabrini um dia perguntou: Excelência, se continuar vivendo assim, o Senhor não tem mêdo de morrer na palha, pobre e sem nada? Scalabrini respondeu: Não seria nenhum privilégio sabendo que o Salvador do mundo nasceu numa manjedoura de palha.
Podemos afirmar que o lugar teológico para Scalabrini sempre foi o pobre e o migrante nos quais encontrava, via e sentia o próprio Cristo presente e vivo nas situações e circunstâncias existenciais do cotidiano da vida.
2-SCALABRINI CIDADÃO E FUNDADOR NAS CÁTEDRAS DA VIDA
Sua maior cátedra, sempre foi a vida e a defesa dos direitos humanos dos pobres, vulneráveis e migrantes, por isso tinha sempre um ouvido atento à realidade e outro em Deus. Sabia ler a realidade e interpretar os sinais dos tempos com a sabedoria da razáo e a inteligência da fé.
Ao visitar a Estação de Milão e o Porto de Gênova, sentiu vergonha de ser cidadão italiano pela situação deplorável dos que eram obrigado a deixar a pàtria, amontoados, desprotegidos, pobres e abandonados pelo Estado, explorados pelos “mercadores de carne humana” apenas com poucos pertences em malas e sacos surrados, mas com muita esperança e sonhos no coração no presente e futuro de dignidade. Nestes encontros existenciais, sentia fortes emoções e sentimentos misturados entre vergonha e compaixão e no silencio embargado na garganta, ecoava uma pergunta fundamental: O que devo e posso fazer?
Ao receber uma carta de um migrante italiano no Brasil que suplicava “Senhor bispo, envia-nos um sacerdote porque aqui se nasce, se vive e se morre como os animais”. Também neste momento, sem fazer ruídos foi gestando decisões importantes nesta direção através da fundação de duas congregações: Os Missionários e Missionárias de São Carlos para defender e acompanhar a multidão de emigrados da Itália para o mundo.
Em suas visitas pastorais comprometeu as comunidades, paróquias e Igrejas locais com seus bispos e junto com as autoridades civis e seus missionários para o cuidado, a corresponsabilidade e o acompanhamento dos emigrantes nos três momentos da migração: origem, trânsito e destino. Neste sentido criou consciência com palestras e estudos no sentido de dar a conhecer o fenômeno das migrações forçadas e comprometer governos, autoridades civis e religiosas para a necessidade de construir legislações migratórias para a proteção e o cuidado dos migrantes. Ao mesmo tempo, por onde passava, foi uma presença de incidência política, social e eclesial para uma acolhida digna e para que houvesse legislações migratorias e políticas sociais de inclusão e integração dos povos e para os migrantes.
Nas visitas aos diferentes papas do seu episcopado do seu tempo propôs a criação de uma estrutura na igreja universal para o acompanhamento e atendimento dos migrantes. O fez enviando uma proposta de um “Memorandum” ao Papa Pio X que a considerou importante e que posteriormente, seus sucessores concretizaram oficializando uma estrutura eclesial universal e elaboraram documentos orientativos ao tema das migrações e à pastoral da mobilidade humana para toda a Igreja, presente atualisados hoje na Igreja com o Papa Francisco através do Dicastério do Desenvolvimento Humano Integral – Seção Migrantes e Refugiados.
Nas diferentes palestras e encontros com autoridades, presidentes, governos em parlamentos e universidades propondo aos acadêmicos e aos políticos do seu tempo leis de migrações com a prioridade na defesa dos direitos humanos dos migrantes e em politicas de integração para uma cidadania universal e plena para todos os que residem num país. Hoje os Scalabrinianos continuam sendo esta presença de incidência no mundo acadêmico, das comunicações e na ONU. (Organização das Nações Unidas) Fazem um trabalho em parceria com vários Organismo Internacionais e Eclesiais, Congregações Religiosas e Institutos de Formação através de Memorandos de Entendimento. Scalabrini sempre atuou de forma integral e integradora através do diálogo permanente entre governos, igreja e os destinatários de missão, ao mesmo tempo sempre usou uma metodologia de diálogo comunitário e coletivo na busca de respostas e soluções concretas. Nesta direção se revela a identidade Scalabriniana no mundo das migrações. Isto significa fidelidade criativa do carisma.
3-SCALABRINI BEM AVENTURADO E SANTO NOS ALTARES DO MUNDO
Graças a tudo o que Scalabrini foi e fez durante sua vida, os migrantes, o povo devoto e seus missionários e missionarias sentiram, viram e encontraram nele um exemplo de vida e um modelo a seguir. A Igreja por sua vez escutando seus seguidores e vendo as devoções presentes nos cinco continentes aprovou sua caminhada e confirmou sua fé, para colocá-lo nos altares do mundo. Esta boa noticia foi recebida com muita alegria no dia 21 de maio e o Papa Francisco junto con os cardeais no dia 27 de agosto oficializou sua canonização para o dia 09 de outubro. A partir deste momento todos os cristãos, católicos e as pessoas de boa vontade no mundo inteiro podem invocá-lo por sua intercessão junto à Trindade Santa e pedir graças e bênçãos para suas necessidades humanas espirituais. Scalabrini se constitui nosso intercessor junto a Deus para que nossos pedidos sejam ouvidos e realizados em nossa vida. É modelo e caminho de santidade para a Igreja e o mundo.
Ao mesmo tempo significa um maior compromisso de cada um de nós para sermos mais santos e santas seguindo seu exemplo de santidade como cidadãos, cristãos e profetas no mundo das migrações e na igreja. Creio que três palavras que iniciam com a mesma letra, podem definir este homem humano-divino: Foi um ser humano CRIATIVO, curiosoe atento à realidade do seu tempo e por isso sempre tomou a iniciativa de ir ao encontro de todos e em todas as situações e circunstâncias da vida. Presença de COMPAIXÃO e de sensibilidade se emocionava diante das diferentes situações de dor das pessoas e no silêncio falava com Deus para pedir luzes e imediatamente dava respostas concretas. Alguém com inteligência única e uma CABEÇA brilhante, sempre muito crítico ao ler a realidade com os olhos e a luz da fé, os sinais dos tempos, denunciou as injustiças, propôs soluções reais, justas e possíveis, anunciou um futuro seguro e feliz se assim fosse feito conforme sua inspiração e orientação. Podemos afirmar que Scalabrini foi um homem de fé, de iniciativa, sensível, solidário e crítico guiado pela luz do Espírito deu continuidade ao projeto de Deus no contexto histórico de sua época.
O diálogo com todos, sempre foi o único caminho para construir a comunhão no mundo, por isso a Igreja o proclama santo, exemplo de fé, esperança e amor para o mundo, com o título de Apóstolo do Catecismo e Pai dos Migrantes. Scalabrini agora além de continuar sendo nosso Fundador, é Santo da Igreja e seu carisma é compromisso e responsabilidade de todos. Seu sonho de comprometer toda a Igreja na causa do migrante como o fez na proposta através do seu “Memorandum” ao Papa Pio X em 1905 se tornou realidade na Igreja.
O mundo mais do que nunca precisa de modelos. Agora é nossa vez e no seguimento a Scalabrini, devemos ser presença de luz, diálogo, justiça, igualdade, compaixão, fidelidade criativa, comunhão... para que juntos com os migrantes possamos conjugar no plural alguns verbos: prevenir, incidir, acolher, promover, proteger, integrar e celebrar. Certamente novas fronteiras serão abertas a partir da canonização de Scalabrini. Assim ele dizia: “Idem anjos de Deus como missionários, Apóstolos, Maestros, Médicos e Enfermeiros”. Sejamos nós os continuadores (as) da mesma missão de Jesus, construindo o Reino de Deus e por causa de tudo isso Deus seja louvado.
Obrigado São João Batista Scalabrini pela sua vida e seu exemplo. Pedimos por sua intercessão como Apóstolo do Catecismo e Pai dos Migrantes, junto a Deus, para que todos os povos sejam respeitados e todos os migrantes tenham o necessário para viver com dignidade e continuem caminhando em paz e com segurança.
Pe. Mário Geremia, CS