Nem todos os cristãos compreendem de modo claro como alguém é proclamado santo pela Igreja Católica. Trata-se de um processo minucioso, com etapas definidas e uma necessária verificação canônica, que, embora envolva certa burocracia, tem por objetivo preservar a autenticidade da fé e o testemunho da vida cristã exemplar.

O mais importante, contudo, é reconhecer que todo processo de canonização nasce de uma realidade concreta: a fama de santidade. É o povo de Deus quem, primeiro, reconhece e testemunha a vida de alguém que viveu de forma radical o seguimento de Jesus Cristo. No caso de São João Batista Scalabrini, isso aconteceu desde sua morte, em 1905.

A Fama de Santidade: O Primeiro Passo

A santidade não começa com documentos, mas com o testemunho do povo. Logo após o falecimento de Dom João Batista Scalabrini, em sua diocese de Piacenza, cresceu de forma espontânea o reconhecimento de que ele havia vivido o Evangelho com radicalidade. A sua memória permaneceu viva entre os fiéis, que viam nele um verdadeiro pastor, profundamente unido a Cristo e dedicado aos migrantes, pobres e necessitados.

Para que essa memória não se perdesse e fosse oficialmente reconhecida pela Igreja, iniciou-se, em 1936, o processo de canonização.

A Fase Diocesana: Servo de Deus

Confirmada a fama de santidade, abre-se oficialmente o processo diocesano. Nele, investiga-se detalhadamente a vida da pessoa: sua entrega a Deus, seus escritos, seus gestos, o testemunho de quem o conheceu. A Igreja examina se houve martírio, oferta da vida ou virtude heroica – esta última é a vivência fiel e extraordinária das virtudes cristãs no cotidiano.

Essa investigação ocorreu em Piacenza, de 1936 a 1940, sob a condução do bispo Dom Ersilio Menzani. Concluído o processo, os documentos foram enviados a Roma, e Scalabrini passou a ser reconhecido oficialmente como Servo de Deus.

A Fase Romana: Venerável

Em Roma, a Congregação para as Causas dos Santos examina os documentos enviados pela Diocese. Verifica-se com rigor a autenticidade da vida do Servo de Deus, especialmente no tocante às virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e às virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança), vividas de forma heroica.

No caso de Dom Scalabrini, após décadas de estudo, o Papa São João Paulo II reconheceu oficialmente suas virtudes heroicas em 16 de março de 1987, conferindo-lhe o título de Venerável. Isso significava que a Igreja reconhecia, com certeza moral, que ele viveu de forma exemplar, digna de imitação por todos os cristãos.

A Fase Romana: Bem-Aventurado

Para a beatificação, é necessário o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do Venerável, geralmente uma cura inexplicável à luz da medicina. O milagre atribuído a Scalabrini foi a cura da Irmã Paolina, e seu processo iniciou-se em 1994.

A comissão médica do Vaticano, em 5 de dezembro de 1996, reconheceu que a cura não tinha explicação científica. Os teólogos confirmaram, em 21 de março de 1997, que o milagre era fruto da intercessão do Venerável Scalabrini. E, em 3 de junho de 1997, os cardeais e bispos da Congregação das Causas dos Santos deram parecer unânime: tratava-se de um milagre autêntico.

No dia 4 de julho de 1997, o Papa João Paulo II assinou o decreto de beatificação. A solene celebração foi realizada no dia 9 de novembro de 1997, na Praça São Pedro, em Roma, e Scalabrini passou a ser invocado como Bem-aventurado João Batista Scalabrini.

A Canonização: Santo da Igreja Universal

A canonização exige um segundo milagre, ocorrido após a beatificação. Este também é rigorosamente examinado, e, sendo aprovado, o Papa convoca um Consistório, no qual se decide a canonização.

Durante o Ano Scalabriniano, celebrado em 2022 pelos 25 anos da beatificação, a Família Scalabriniana viveu um tempo de intensa ação de graças e oração.

Segundo o Vatican News, em 21 de maio de 2022, o Papa autorizou a dispensa do segundo milagre para sua canonização. O postulador de sua causa, padre Graziano Battistella, lembra a dedicação que Scalabrini teve para com os migrantes e que se transformou em ações concretas, mas também em amor pelas crianças, tanto que foi chamado de “apóstolo do catecismo”. “Sua relevância – recorda o padre Battistella – está em lembrar que todos estamos envolvidos na missão, porque é parte inerente de nossa crença”.

A canonização de São João Batista Scalabrini foi celebrada solenemente no dia 9 de outubro de 2022, na Praça São Pedro. A Igreja universal passou a venerá-lo como Santo, propondo-o como modelo de pastor e defensor dos migrantes.

Foi um momento de profunda alegria para toda a Família Scalabriniana – Missionários, Religiosas, Consagradas, leigos e leigas – e para todos aqueles que, inspirados por seu Carisma, vivem o Evangelho a serviço dos migrantes e refugiados.

Abaixo, acompanhe a Santa Missa de Canonização de São João Batista Scalabrini, em 9 de outubro de 2022, presidida pelo Papa Francisco