João Batista Scalabrini nasceu em 8 de julho de 1839, na pequena cidade de Fino Mornasco, entre Milão e Como, norte da Itália. Terceiro de oito filhos de uma família profundamente Católica, desde cedo demonstrou inteligência viva, coração sensível e uma inclinação natural para as coisas de Deus. Ainda criança, foi batizado no mesmo dia de seu nascimento e crismado aos doze meses, segundo os costumes da época.

Aos 18 anos, ingressou no Seminário Diocesano de Como, respondendo ao chamado vocacional. Foi ordenado sacerdote em 30 de maio de 1863, aos 24 anos. Seu ardente desejo missionário o levou a pedir ingresso no Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, com a esperança de evangelizar em terras distantes. No entanto, seu bispo lhe respondeu: “As suas Índias são a Itália”. Scalabrini acolheu essa orientação com espírito de fé e obediência, entregando-se com amor à missão que Deus lhe confiava em sua terra natal.

Como sacerdote, destacou-se como educador, vice-reitor e depois reitor do Seminário. Em 1870, foi nomeado pároco da Paróquia de São Bartolomeu, na periferia operária de Como. Seu ministério pastoral foi marcado por dinamismo, criatividade e profunda atenção aos mais necessitados. Criou escolas noturnas para operários, abriu espaços de catequese para crianças e adolescentes, e publicou o Pequeno Catecismo, uma síntese clara e acessível da fé cristã.

Aos 36 anos, foi surpreendido com sua nomeação como bispo de Piacenza. Recebeu a consagração episcopal em 30 de janeiro de 1876. Em sua diocese, viveu intensamente o ideal do “pastor com o cheiro das ovelhas”: visitou pessoalmente todas as 365 paróquias, promoveu três sínodos diocesanos, fundou escolas de formação catequética, lançou uma revista para catequistas (Il Catechista Cattolico) e organizou, em 1889, o primeiro Congresso Nacional de Catequese da Itália. Seu amor pela transmissão da fé rendeu-lhe o título de “Apóstolo do Catecismo”, concedido pelo Papa Pio IX.

No final do século XIX, Scalabrini testemunhou um fenômeno social que o marcou profundamente: a migração em massa de italianos para as Américas, em busca de melhores condições de vida. Estima-se que mais de 24 milhões de italianos migraram entre 1876 e 1976. Muitos partiam em condições precárias, expostos à exploração, à perda da fé e ao sofrimento social e moral.

Ao visitar a estação de trem de Milão e observar comovido a partida dos migrantes, Scalabrini compreendeu que a Igreja não podia permanecer indiferente diante daquela multidão errante. Viu ali uma nova missão: “Cuidar das almas em trânsito”. A partir dessa experiência, surgiu o Carisma Scalabriniano.

Em 28 de novembro de 1887, fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu, com a finalidade específica de acompanhar os migrantes, promover sua dignidade e garantir que não perdessem a fé e os vínculos com a Igreja. Dois anos depois, em 1889, criou a Associação de São Rafael, composta por leigos e leigas engajados na acolhida e assistência aos migrantes nos portos e pontos de embarque e desembarque.

Em 25 de outubro de 1895, com a colaboração dos irmãos Assunta e José Marchetti, Scalabrini fundou a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu, fortalecendo ainda mais o rosto missionário e caritativo da Igreja junto aos migrantes.

A partir desta tríplice fundação – Missionários, Missionárias e Leigos – Scalabrini tornou-se conhecido como o “Pai dos Migrantes”, não apenas por fundar instituições, mas por entregar sua vida ao serviço de um povo itinerante, desamparado e invisibilizado pela sociedade.

Sua santidade se manifesta na fidelidade a Cristo pobre e peregrino, no amor incansável aos pequenos e na visão profética de uma Igreja em saída, capaz de ir ao encontro dos últimos, vivendo com radicalidade o ensinamento o Evangelho de Mateus “Era migrante e me acolhestes” (25, 35).