
No terceiro domingo de agosto, o Mês Vocacional, a Igreja volta seu olhar para a vocação à vida religiosa e consagrada, reconhecendo e valorizando homens e mulheres que, tocados pelo amor de Cristo, consagram toda a sua vida ao serviço do Reino de Deus, deixando tudo para viver exclusivamente para Cristo.
O que é a vida religiosa consagrada?
A vocação religiosa e consagrada é uma forma particular de seguir a Cristo, caracterizada pela profissão dos conselhos evangélicos:
- Castidade por amor ao Reino de Deus (Mt 19, 12);
- Pobreza em espírito (Mt 19, 21);
- Obediência à vontade de Deus (Lc 22, 42).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC 916), na vida consagrada “(...) os fiéis propõem‑se, sob a moção do Espírito Santo, seguir Cristo mais de perto, entregar‑se a Deus amado acima de todas as coisas e, procurando a perfeição da caridade ao serviço do Reino”.
Essa vocação se manifesta em diferentes formas: ordens e congregações religiosas, institutos seculares, eremitas, virgens consagradas e novas comunidades. Todas têm em comum a entrega total a Deus e à missão evangelizadora.
Podem estar unidas, mas distintas entre si
Embora estejam intimamente ligadas na vida e missão da Igreja, a vida religiosa consagrada e a vocação ao ministério ordenado são vocações distintas, com naturezas e finalidades próprias.
A vida religiosa consagrada é um estado de vida reconhecido oficialmente pela Igreja, em que a pessoa, seja um homem ou uma mulher, se consagra totalmente a Deus, professando publicamente os conselhos evangélicos (castidade, pobreza e obediência). Pode ser vivida por leigos consagrados (como as irmãs religiosas e os irmãos religiosos que não são padres) ou por clérigos consagrados (padres ou diáconos que pertencem a uma ordem ou congregação).
O essencial não é o ministério sacramental, mas a configuração total a Cristo e o testemunho profético do Reino.
O ministro ordenado, por sua vez, pode ou não ser religioso. Ao unir as duas vocações, a mesma pessoa vive a consagração religiosa e o ministério ordenado. É o caso de Padres que são também religiosos, como os Missionários de São Carlos – Scalabrinianos. Nesses casos, o religioso vive o carisma e a missão própria de sua congregação, mas também é Sacerdote e, portanto, celebra a Eucaristia, administra os sacramentos e prega a Palavra de Deus. Para entender melhor sobre a vocação ao ministério ordenado, clique aqui.
Uma vocação fundamentada na Sagrada Escritura
O chamado à vida consagrada está profundamente enraizado na Palavra de Deus e nos Evangelhos. Jesus mesmo convidou alguns a deixarem tudo para segui-Lo: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!”. (Mt 19,21)
São Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, escreve: “Pois quereria que todos fossem como eu; mas cada um tem de Deus um dom particular: uns este, outros aquele.” (1Cor 7,7)
Esses textos revelam que vida consagrada é um chamado específico para viver de modo total a entrega ao Senhor, não como fuga do mundo, mas como sinal de que Deus é o bem supremo.
Um chamado que apresenta os traços de Cristo
Em sua exortação apostólica pós-sinodal “Vita Consecrata”, São João Paulo II ensina que “A vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espírito. Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus (casto, pobre e obediente) adquirem uma típica e permanente ‘visibilidade’ no meio do mundo” (1.).
A este ensinamento, o Papa Francisco acrescentou, em sua homilia da Festa da Apresentação do Senhor, de 1º de fevereiro de 2025, celebrando o 29º Dia Mundial da Vida Consagrada, que cada consagrado e consagrada é chamado a ser luz no mundo, refletindo o amor de Deus através dos votos de pobreza, castidade e obediência. Em sua mensagem, o Santo Padre destacou três aspectos fundamentais da vida religiosa consagrada:
A luz da pobreza: vivendo de forma livre e generosa, a pessoa consagrada rejeita o egoísmo e a avareza, abraçando a partilha, a solidariedade e a sobriedade. Como Paulo afirma: “Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1Cor 3,22-23). Assim, a pobreza não é uma limitação, mas um canal de bênção para o mundo.
A luz da castidade: a renúncia ao amor conjugal e a vivência da continência refletem o amor indiviso a Deus, modelo de todos os outros amores. Papa Francisco ressalta que, em um mundo marcado por afetividade distorcida e superficial, a castidade consagrada mostra um caminho de amor verdadeiro, livre e fecundo, capaz de humanizar relações e curar a solidão do coração humano.
A luz da obediência: baseada na confiança e na escuta ativa da Palavra de Deus, a obediência consagrada é antídoto contra o individualismo e promove relações de diálogo, compromisso e serviço. Como ensina o Papa, a verdadeira obediência não é servil, mas filial e libertadora, permitindo que o consagrado encontre alegria e sentido profundo no projeto de Deus.
O Santo Padre concluiu lembrando que todo retorno às origens da vida consagrada começa em Cristo, no “sim” ao Pai, e se renova na adoração e na vida de oração, pois é nesse encontro com Deus que se fortalece a vocação para servir e iluminar o mundo.
Assim, religiosos e religiosas tornam-se memória viva da presença de Cristo, sinais visíveis de que o amor de Deus é maior que qualquer bem terreno. Além da vida contemplativa, que sustenta espiritualmente toda a Igreja, a vida consagrada atua na evangelização, na educação, na saúde e no cuidado dos pobres, dos vulneráveis e dos migrantes.
Coragem, Ele te chama!
Neste 3º Domingo Vocacional, rezemos para que mais corações digam “sim” ao Senhor da messe, entregando-se totalmente a Ele. E se o chamado for para você, tenha coragem, pois é Ele que te chama. Como a Virgem Maria, a maior entre todas as servas de Deus, responda com confiança: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Texto: Vitor da Cruz Azevedo, setor de conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.
Foto: Arquivo Regional da RNSMM.




