Matrimônio: um caminho de santidade a dois

O matrimônio, para a Igreja, é muito mais do que um contrato ou uma união afetiva entre homem e mulher. É um Sacramento, um sinal eficaz da graça, instituído por Cristo para o bem dos esposos e para geração e educação dos filhos (Catecismo da Igreja Católica, 1601). Ele está enraizado no próprio plano de Deus desde a criação, quando o Senhor disse: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão um só carne” (Gn 2,24), reafirmado por Jesus (Mt 19, 4-6).

Um altar no coração da vida familiar

Existe uma profunda similaridade entre o Calvário e o Sacramento do Matrimônio: ambos são lugares de abnegação e oferta de si. São Paulo escreve aos Efésios: “Maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 25). Essa entrega de Cristo foi total, sem reservas, por amor, até o extremo da morte de cruz (Fl 2, 6-8).

No matrimônio, marido e esposa são chamados a viver esse mesmo movimento de doação: esvaziar-se de si mesmos, renunciar aos próprios interesses e desejos para servir e amar o outro, tornando-se verdadeiros “sacramentos” vivos do amor de Cristo pela Igreja. Assim, cada ato de generosidade, cada renúncia e cada perdão torna-se um reflexo do Calvário dentro do lar.

A cruz no centro do amor conjugal

A cruz não é um obstáculo à felicidade matrimonial, ao contrário, é o caminho para ela. São João Paulo II, na encíclica Familiaris Consortio (1981), lembra que o amor conjugal autêntico é “purificado, amadurecido e santificado” pelo sacrifício diário. Quando esposo e esposa assumem a cruzes que a vida apresenta, sejam elas dificuldades financeiras, doenças, desafios na educação dos filhos, com fé e amor, tornam-se cooperadores da graça redentora de Cristo.

Assim como no Calvário, Jesus ofereceu sua vida para gerar a vida eterna, no matrimônio os esposos, ao se entregarem mutuamente, tornam-se instrumentos para gerar vida física e espiritual, participando da missão criadora e redentora de Deus.

Um sacramento para a salvação do mundo

O Concílio Vaticano II, na Gaudium et Spes (50), afirma que “O matrimônio e o amor conjugal ordenam-se por sua própria natureza à geração e educação da prole. Os filhos são, sem dúvida, o maior dom do matrimónio e contribuem muito para o bem dos próprios pais.” Mas, vai além, o amor conjugal, quando vivido segundo o plano de Deus, transforma a família em “Igreja Doméstica” (Lumen Gentium, 11), um lugar onde a fé é transmitida, cultivada e testemunhada.

Ao abraçar a vocação matrimonial, os esposos não buscam apenas a própria santificação, mas contribuem para santificação do outro e para a edificação da sociedade e do Reino de Deus. São, portanto, missionários do amor no mundo, sem precisar sair de casa para evangelizar: seu testemunho silencioso e constante já é, por si só, um anúncio do Evangelho.

Um chamado a carregar a cruz juntos

O matrimônio não pode existir sem a cruz, porque a cruz é o lugar supremo do amor. Na vida conjugal, cada gesto de cuidado, cada renúncia e cada reconciliação é uma participação no mistério pascal de Cristo. É nesse altar cotidiano que marido e esposa, unidos pela graça sacramental, se santificam mutuamente e tornam visível no mundo o amor de Deus.

O chamado à vocação matrimonial é, portanto, um convite à alegria de amar até o fim, um amor que é fecundo, fiel e aberto ao outro, porque nasce e se sustenta no próprio coração de Cristo crucificado e ressuscitado.


Texto: Vitor da Cruz Azevedo, Setor de Conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.

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