
Há dias em que a Igreja, espalhada pelos cinco continentes, parece respirar em uníssono. O Dia Mundial das Missões, celebrado anualmente em 19 de outubro, é um desses momentos em que o coração missionário da Igreja pulsa com mais força, lembrando-nos que evangelizar é a sua identidade mais profunda, como ensinou São Paulo VI na Evangelii Nuntiandi (n. 14).
Neste ano, o Papa Leão XIV, que conhece o rosto da missão não apenas pela teoria, mas pela vivência prática, recorda com emoção o tempo em que serviu como missionário no Peru. “Vi com meus próprios olhos como a fé, a oração e a generosidade demonstradas neste Dia podem transformar comunidades inteiras”, partilha o Pontífice em sua mensagem. Sua recordação, simples e viva, devolve à celebração o que ela tem de mais autêntico: a certeza de que a missão transforma não apenas os lugares, mas os corações.
O coração missionário da Igreja
Desde Pentecostes, a Igreja vive em permanente envio. O Espírito Santo, que fez dos apóstolos homens novos, continua hoje a soprar sobre nós, recordando que a fé não se guarda, partilha-se. Como afirma o Concílio Vaticano II, “A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária (...)” (Ad Gentes, 2).
Ser missionário não é privilégio de alguns, mas vocação de todos os batizados. É permitir que Cristo seja o centro da própria vida e, a partir d’Ele, anunciar ao mundo a alegria do Evangelho. São João Paulo II, em Redemptoris Missio (n. 2), escreve: “A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações.”
A missão, portanto, não é uma tarefa externa: é o movimento vital da Igreja. É a respiração do Corpo de Cristo no tempo, levando o sopro do Espírito aos lugares onde a esperança parece faltar.
“Missionários da esperança entre os povos”
O lema escolhido para este Dia Mundial das Missões “Missionários da esperança entre os povos” revela a alma do tempo presente. Em meio a guerras, deslocamentos forçados, crises ambientais e espirituais, o missionário é chamado a ser presença de esperança, não por si mesmo, mas por Cristo, nossa Esperança (1Tm 1,1).
O Papa Leão XIV expressa com ternura esse convite: “Enquanto refletimos juntos sobre a nossa vocação batismal de sermos missionários da esperança entre os povos, renovemos nosso compromisso doce e alegre de levar Jesus Cristo, nossa Esperança, até os confins da terra.”
É um apelo à doçura e à alegria, marcas do verdadeiro anúncio cristão. Evangelizar não é impor, mas propor o encontro com Aquele que muda a vida.
A missão tem rosto: o migrante
Para os Missionários de São Carlos – Scalabrinianos, a missão se encarna de forma concreta na mobilidade humana. Desde o século XIX, São João Batista Scalabrini compreendeu que o migrante é um ícone vivo da fé em caminho, um sinal de Cristo peregrino. “A Igreja deve acompanhar o migrante com a luz da fé e o conforto da caridade”, escreveu o fundador.
Nos migrantes, refugiados e marítimos, a Congregação reconhece o rosto do Cristo que caminha. Servi-los é evangelizar; acolhê-los é tornar presente o Reino. Ser missionário da esperança entre os povos, portanto, é ver no migrante não um problema, mas um dom. Um lembrete de que a Igreja é, em si, uma comunidade de peregrinos.
Evangelizar com as mãos e o coração
A missão se realiza com os pés que caminham, as mãos que servem e o coração que ama.
Como recorda o Papa Leão XIV, as orações e doações feitas neste dia ajudam não apenas a sustentar projetos, mas a construir pontes de fé e de solidariedade.
“As orações e a ajuda servem para difundir o Evangelho, sustentar programas pastorais e de catequese, construir novas igrejas e responder às necessidades de saúde e educação de nossos irmãos e irmãs nos territórios de missão.”
Por isso, celebrar o Dia Mundial das Missões é também um gesto de comunhão. Cada oração, cada oferta, cada gesto simples é um modo concreto de dizer: “Sim, Senhor, eu também quero participar da Tua missão”.
A esperança que não decepciona
“Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16). Estas palavras de São Paulo ecoam em cada coração missionário. No fundo, a missão é um ato de amor: quem se encontrou com Cristo não pode guardar esse encontro para si.
Neste Dia Mundial das Missões, os Missionários de São Carlos – Scalabrinianos se unem à Igreja de Cristo para agradecer a Deus por todos os missionários e missionárias que anunciam o Evangelho entre os povos em mobilidade e para pedir que o Espírito Santo continue a suscitar novos corações dispostos a servir.
Que Maria, Estrela da Evangelização e Mãe dos migrantes, nos ensine a levar Cristo, nossa Esperança, a todos os caminhos do mundo.
Texto: Vitor da Cruz Azevedo, setor de conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.
Foto: Arquivo Regional.




