Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero: um dom que sustenta a missão da Igreja

No dia 27 de junho, a Igreja celebra o Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero, ocasião sempre marcada pela Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, imagem viva do amor redentor de Cristo, modelo por excelência da vida sacerdotal. Esta data, instituída por São João Paulo II em 1995, recorda à Igreja o dever de rezar por seus presbíteros, para que vivam fielmente sua vocação, permanecendo unidos a Cristo, Bom Pastor.

A santidade sacerdotal é um dom, mas também um compromisso. Conforme afirma o Catecismo da Igreja Católica, o sacerdote é configurado a Cristo Cabeça da Igreja e age “in persona Christi Capitis - na pessoa de Cristo Cabeça” (CIC, §1548). “O padre católico não é somente Jesus Cristo vivendo no homem, é Jesus Cristo operante no homem e com o homem: é Jesus Cristo que fala, Jesus Cristo que se sacrifica, Jesus Cristo que perdoa, Jesus Cristo que salva”, afirmava São João Batista Scalabrini. Tal estado de vida e missão exige vida de oração, fidelidade evangélica e caridade pastoral.

“Na atual fase da vida da Igreja, em um contexto social assinalado por um forte secularismo, depois de ser reproposta a todos uma ‘medida alta’ da vida cristã, a santidade, os presbíteros são chamados a viver em profundidade o seu ministério como testemunhas de esperança e transcendência, tendo em conta as cada vez mais profundas, numerosas e delicadas exigências de ordem não só pastoral, mas também social e cultural, às quais devem fazer frente”, afirma o Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros (n. 45). Portanto, a santificação do clero é essencial para a autenticidade e fecundidade da missão evangelizadora da Igreja.

A oração como sustento da missão

A vocação sacerdotal não é sustentada apenas por estruturas ou pela formação teológica, mas, antes de tudo, pela graça divina e pela oração da Igreja. Quando os fiéis rezam pelos seus padres, unem-se à missão deles e tornam-se corresponsáveis na evangelização. De fato, São João Batista Scalabrini exortava seus fiéis a rezarem assiduamente: “Oh! sim! rezai. Não existe pessoa liberada desta lei. Se sois virtuosos, rezai, para vos manterdes assim. Se, pecadores, rezai para sairdes de vosso lastimável estado. Rezai uns pelos outros, para serdes salvos, porque está escrito: ‘A oração assídua do justo pode muito’. Rezai com humildade, confiança, perseverança.”

A oração é escudo espiritual diante das tentações e dificuldades que acompanham a missão dos ministros ordenados, sobretudo em contextos de vulnerabilidade humana.

Nesse sentido, o Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero é uma oportunidade para renovar o compromisso da Igreja com seus presbíteros, reconhecendo sua humanidade e sua missão essencial: levar Cristo às pessoas e conduzir as pessoas a Cristo.

Uma vida consagrada entre os migrantes

Os Missionários de São Carlos – Scalabrinianos vivem essa consagração de modo radical e missionário. Com uma espiritualidade profundamente eucarística e apostólica, os Sacerdotes Scalabrinianos consagram suas vidas ao serviço evangélico dos migrantes, refugiados e marítimos — homens e mulheres marcados pela dor da partida, do desenraizamento e da busca por dignidade.

A vida consagrada e sacerdotal, para os Scalabrinianos, não é apenas um estado de vida, mas um sinal profético da presença de Deus entre os que sofrem as consequências da mobilidade humana. É uma consagração que se realiza entre fronteiras, nos centros de acolhida, nos portos e aeroportos, nos campos de refugiados, nas comunidades migrantes — com o altar no coração e os pés a caminho.

O Papa Francisco em uma de suas homílias, recordou que o Sacerdote não é um “gestor”, mas sim um pastor que precisa ter o cheiro das ovelhas. Deve ser comprometido com a justiça, a comunhão e o anúncio do Reino, onde quer que os filhos de Deus estejam.

O sacerdote, que sai pouco de si mesmo, que unge pouco, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. A diferença é bem conhecida de todos: o intermediário e o gestor ‘já receberam a sua recompensa’. (...) isto vo-lo peço: sede pastores com o ‘cheiro das ovelhas’, sejam pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens”. (Papa Francisco, Missa Crismal, 2013).

Santidade: dom e tarefa de todos

Neste Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero, toda a Igreja é convidada a se unir em súplica pelo dom de Padres santos, fiéis, humildes e generosos. “Deus, por um gesto de sua bondade infinita, não escolheu os seus ministros, entre os anjos, mas entre os homens. Os padres não são anjos, é melhor que seja assim. Saberão compadecer-se mais e socorrer os culpados e pobres irmãos, porque também eles estão cercados de enfermidades”, nos recorda São João Batista Scalabrini.

A santidade do clero não é uma meta isolada, mas um chamado que toca a vida de todo o Corpo de Cristo. Quando um padre vive com coerência sua vocação, todo o povo é edificado. Quando a comunidade reza por seus ministros, fortalece a própria identidade eclesial.

O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”, dizia São João Maria Vianney, padroeiro dos padres. Rezar pela santificação dos sacerdotes é, portanto, pedir que esse amor inflame os corações dos ministros de Cristo e transforme suas vidas em sinais visíveis da misericórdia de Deus.

Que esta data inspire gestos concretos de oração, gratidão e apoio ao ministério presbiteral. E que os Missionários de São Carlos – Scalabrinianos, com seu testemunho de vida consagrada, profética e servidora, continuem a levar Cristo aos migrantes, com o vigor de um coração pastoral unido ao Sagrado Coração de Jesus.


Texto: Vitor da Cruz Azevedo, Setor de Conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.

Foto: Acervo Regional da RNSMM.