Neste ano jubilar de 2025 “Peregrinos de Esperança”, como família scalabriniana, estamos prontos para viver com eficácia e prontidão este tempo de graça: a Quaresma. Tudo isso, certamente, com os olhos fixos em Jesus.

Para encarnar mais concretamente o nosso ser discípulos do Senhor nas pegadas de Scalabrini, a serviço dos migrantes e refugiados, a própria Igreja nos apresenta atitudes, gestos e formas preciosas que nos ajudam a crescer em nosso compromisso e pertença a Deus. O caminho da conversão é “a penitência interior do cristão”. A Escritura e os Padres insistem sobretudo em três formas especiais: jejum, oração e esmola (Tb 12,8; Mt 6,1-18), que exprimem a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Juntamente com a purificação radical realizada pelo Batismo ou pelo martírio, citam, como meio para obter o perdão dos pecados, os esforços feitos para se reconciliar com o próximo, as lágrimas da penitência, a solicitude pela salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, que cobre uma multidão de pecados” (Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1434).

Na perspectiva do mistério, como missionários para os migrantes, percebemos pela fé a presença de Cristo migrante, que vem ao nosso encontro como estrangeiro, reavivando na memória a trágica experiência da Sagrada Família em busca de proteção e estabilidade social. Essa realidade se repete inúmeras vezes na vida de muitos migrantes que, como a Sagrada Família, são forçados a deixar tudo para buscar paz e bem-estar. Nesta perspectiva, podemos nos perguntar: o que posso fazer hoje para ser solidário com os três milhões de exilados e refugiados no mundo? Qual é o jejum que Deus nos pede para demonstrar solidariedade com os migrantes? Qual é o seu significado e como esse ato de amor ajuda todos esses necessitados? O que significa para mim, cristão fiel, a prática do jejum solidário?

O jejum tem seu fundamento na nova lei evangélica de Cristo expressa nas bem-aventuranças (Mt 5,3-12; Lc 6,17-26). A prática do “mandamento do amor” oferecido a Deus, que vê os segredos do coração, contrasta com os desejos egoístas puramente humanos. Por isso, praticando o jejum cristão, damos um sentido profundo e verdadeiro a este ato, conformando-nos com o amor do Pai, amando os outros e compartilhando suas tristezas e sofrimentos. Além disso, o jejum, em qualquer uma de suas formas (não comer, evitar murmurar e criticar as pessoas, abster-se das coisas que mais nos agradam etc.), é um sinal de comunhão e sacrifício pessoal, que compartilha a experiência do próprio Cristo, que sofreu por nós, meros mortais, para nos salvar, sendo ao mesmo tempo um instrumento de conversão e crescimento espiritual.

Conscientes da realidade dos migrantes, pensemos quão grande é o número de irmãos e irmãs migrantes e refugiados no mundo obrigados a jejuar, não por escolha pessoal, mas porque, na maioria das vezes, precisam sair de sua zona de conforto às pressas, levando consigo apenas o necessário para a viagem e confiando fundamentalmente na providência. Por isso, o Papa Francisco chama os migrantes de “Mestres de Esperança”. Para todos eles, Deus é a única esperança, refúgio e consolação em sua peregrinação. Certamente, se pudessem escolher, não colocariam em risco sua segurança, seu patrimônio, sua família e, acima de tudo, sua vida, que é o bem mais sagrado que possuem, para seguir por caminhos incertos, sem garantias. Infelizmente, essa é a gravíssima situação de milhões de migrantes e refugiados forçados a peregrinar, impulsionados pela injustiça social, a violência, a guerra, as políticas autoritárias e a falta de oportunidades, entre outros fatores. Exemplos disso são os exilados da Ucrânia, Palestina, países africanos, Haiti, Cuba e Venezuela.

Neste tempo em que vivemos, podemos dar um sentido de solidariedade à prática penitencial do jejum. Este gesto sublime nos oferece, por um lado, uma preciosa oportunidade espiritual de experimentar a comunhão com todos os migrantes exilados, unindo nosso sacrifício ao de todos aqueles que, dia após dia, deixam sua pátria para “ir à procura de outra terra que lhes proporcione sustento” e a realização de seus projetos, necessidades familiares e pessoais. Esta prática ascética alimenta, vivifica e fortalece a alma e a vida de tantos exilados que batem de porta em porta, pedindo para serem “acolhidos”, “protegidos”, “promovidos” e “integrados” nas novas sociedades de chegada (Dia Mundial dos Migrantes 2018).

Por outro lado, jejuar em solidariedade com os migrantes e refugiados, trazendo à mente a carta de Diogneto, que diz “para os cristãos, toda pátria é estrangeira e toda terra é pátria”, é um alerta para todos os batizados que compõem o corpo de Cristo, para ajudar e “sensibilizar a Igreja local a se abrir e acolher todos eles, formando aquela família de Deus onde ninguém pode se sentir estrangeiro”. São João Batista Scalabrini, Pai dos migrantes, expressa claramente: “…para o migrante, a pátria é a terra que lhe dá pão”, porque o mundo é a nossa pátria. De fato, não pode ser de outra forma, pois somos uma Igreja peregrina… e nossa última e definitiva morada é a Jerusalém celestial (Gl 4,26; Ap 21,2). Assim, temos a tarefa de “fazer deste mundo a pátria da humanidade”, vivendo em unidade na diversidade.

Dessa maneira, o jejum solidário para com os migrantes e refugiados testemunha nossa pertença a Deus e, ao mesmo tempo, nos convida a uma espiritualidade encarnada, na qual as obras de misericórdia corporais, ou seja, “dar de comer aos famintos; dar de beber aos sedentos; dar hospedagem aos necessitados; vestir os nus; visitar os doentes; ajudar os prisioneiros; enterrar os mortos”, são gestos concretos de amor. Tais vivências, porém, não constituem uma tarefa fácil, pois implicam uma mudança de mentalidade, um exercício de reconhecimento do “outro”, sair do “eu” para ir ao encontro do “tu” e, sobretudo, descobrir na pessoa do migrante o “rosto” de Cristo: “Tive fome e me deram de comer, tive sede e me deram de beber, era estrangeiro e me acolheram, estava nu e me vestiram, doente e me visitaram, estava preso e vieram a mim” (Mt 25,36-45). Por isso, se quisermos ser coerentes com a fé que professamos e crescer na prática do amor a Deus e aos irmãos, não podemos ficar indiferentes à realidade migratória que o mundo vive hoje.

Diante do refletido, conclui-se que o melhor jejum que podemos praticar e que agrada a Jesus nesta Quaresma é não permitir que a indiferença nos invada em relação à situação dos milhões de migrantes e refugiados espalhados pelo mundo. Somos convidados a viver nosso compromisso de fé com fidelidade criativa, praticando a hospitalidade e a acolhida com amor e misericórdia, sendo profetas de esperança para todos os exilados sofredores no caminho, dando-lhes um lugar em nossos corações, em nossas orações, na Igreja e na construção de uma sociedade mais fraterna e humana. Os migrantes não são apenas números e estatísticas; são pessoas de carne e osso, como você e eu, com suas próprias necessidades. Todos buscam, simplesmente, sua realização e felicidade.

E você, já pensou em como ser solidário nesta Quaresma com os migrantes e refugiados?


Texto: Pe. Juventino Hermilo Cortés Solís, CS.

Foto: Adobe Stock.

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