Devoção Mariana e Renovação dos Votos: A Festa da Imaculada Conceição na Congregação Scalabriniana

No dia 8 de dezembro, a Igreja celebra a Festa da Imaculada Conceição de Maria, um dos pilares da devoção mariana. Esta data não apenas reflete uma antiga tradição cristã, mas também evoca o Dogma que a Igreja proclamou oficialmente em 1854: a Virgem Maria, desde o seu primeiro instante de vida, foi preservada do pecado original pela Graça Divina. Esse privilégio, reconhecido como a "Imaculada Conceição", destaca Maria como a mãe do Salvador, isenta de qualquer mancha de pecado e a torna modelo de pureza e santidade.

A fé na Imaculada Conceição remonta aos primeiros séculos do cristianismo, sendo compartilhada tanto no Oriente quanto no Ocidente. Embora o Dogma tenha sido formalmente definido no século XIX, a crença na pureza de Maria como Mãe de Jesus é profundamente enraizada na Tradição da Igreja e nas Escrituras. A Bíblia é clara ao descrever Maria como "cheia de graça", especialmente quando o Anjo Gabriel a saúda, conforme registrado no Evangelho de Lucas.

Além disso, passagens como Gênesis 3, 15, onde Deus declara que a Mulher seria inimiga da serpente, e o Cântico dos Cânticos 4,7, que exalta a beleza imaculada de Maria, fundamentam a crença na sua pureza. A Igreja também a vê como a Arca da Nova Aliança, sem corrupção, como está escrito em Apocalipse 11,19. Estes textos bíblicos e os escritos dos Padres da Igreja, como São Tomás de Aquino, ajudaram a consolidar a doutrina ao longo dos séculos.

Em 1854, Papa Pio IX formalizou o dogma da Imaculada Conceição, por meio da bula Ineffabilis Deus. Este importante documento papal declarou que Maria, pela graça de Deus e os méritos de Jesus Cristo, foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção. O dogma reafirma a convicção de que esta verdade foi revelada por Deus e deve ser aceita com fé por todos os cristãos.

Os Votos Perpétuos e a Devoção à Imaculada Conceição

Desde a fundação da Congregação dos Missionários de São Carlos, em 1887, Dom João Batista Scalabrini desejava que todos os membros emitissem seus votos religiosos. Embora os primeiros missionários, enviados em 1888, fossem sacerdotes diocesanos com desejos missionários, eles emitiam promessas de agregação ao Bispo de Piacenza, por um contrato renovável de 5 anos, podendo ser renovados ou não. Em 1895 foi aprovada uma nova regra para a Congregação que previa que os religiosos emitissem não apenas uma promessa, mas os votos religiosos perpétuos. Surgiram então as primeiras dificuldades, pois foram abertas muitas missões, e seria impossível dispensar sacerdotes diocesanos que desejavam permanecer, mas sem os votos perpétuos. Assim, Dom Scalabrini teve que abrir muitas exceções, o levando a formar dois tipos de missionários: os Scalabrinianos de votos perpétuos e os agregados por 5 anos, renováveis.

A intenção, porém, de Dom Scalabrini sempre foi contar com religiosos de votos perpétuos, confirmada depois no “Regulamento Geral de 1904”, aprovado por ele em 04 de fevereiro de 1904, onde especificava o objetivo principal do noviciado: “determinar sempre melhor, tanto para o Noviço quanto para a Comunidade, a vocação Religiosa do Missionário, e prepará-lo com piedade, estudo e com provas adequadas para a profissão perpétua dos três votos de castidade, de obediência e de pobreza, pelos quais ele permanece, pelo resto de sua vida, ligado à Congregação” (Regulamento Geral para a Casa Mãe - Piacenza, 1904).

Após a morte do Fundador, a congregação entrou em crise por diferentes circunstâncias, correndo o risco de ser extinta. O Pe. Domenico Vicentini, primeiro Superior Geral após a morte do fundador, em 1905, preparou um novo esquema de regulamento, propondo a introdução de um juramento com dez anos de duração em vez do perpétuo. Com o novo regulamento, aprovado pela Propaganda Fide no dia 05 de outubro de 1908, o Instituto Scalabriniano transformou-se em “Pia Sociedade” de membros que praticavam a vida comum, mas sem votos.

Desde 1924 a Congregação ficou sob dependência direta da Congregação Consistorial, sendo Superiores Gerais os cardeais Gaetano De Lai (1924-1928), Carlo Perosi (1928-1930), Raffaele Carlo Rossi (1930-1948), esse último seria o responsável por dar um salto qualitativo à Congregação, reintroduzindo os votos religiosos como desejavam muitos sacerdotes e estudantes. A decisão foi tomada pelo Papa Pio XI no dia 10 de fevereiro de 1934, e a primeira profissão perpétua de 9 sacerdotes e de 24 religiosos estudantes, juntamente com a profissão temporária de 36 estudantes, foi recebida pelo Cardeal Rossi, em Piacenza, no dia 08 de abril de 1934, marcando a data da reintrodução dos votos religiosos na Congregação.

Os religiosos consagrados Scalabrinianos, como afirma a Regra de Vida, buscam com os votos realizar uma escolha evangélica para viver plenamente como Cristo viveu (Cf. RdV,11). Esta vivência dos votos religiosos acontece em meio da mobilidade humana, cuja característica é a presa, a urgência, a dor, o desespero que emergem de situações extremas provocadas pela migração forçada, evidenciada nos migrantes, refugiados e marítimos. Os religiosos Scalabrinianos estão a caminho, ao lado dos migrantes, e caminham como consagrados para recordar às pessoas em condição de mobilidade justamente quanto são amados por Deus, quanto são cuidados e quanto são preciosos para Deus.

São João Batista Scalabrini alimentava sua espiritualidade na Santa Eucaristia, no amor à santa Cruz e na veneração à Virgem Maria, herança que os consagrados Scalabrinianos procuram viver na sua espiritualidade cotidiana. A solenidade da Imaculada Conceição de Maria, tão apreciada por São Scalabrini, pedia que os primeiros votos fossem professados no dia da Imaculada. E acrescentava que todos os que já tivessem professado, renovassem as suas profissões nessa data. “Todos os anos, na festa da Imaculada Conceição de Maria, (...), todos os professos renovarão seus votos, precedidos por um dia de retiro espiritual” (Regula, 1895, n.13).

Em sua visita ao Brasil e à Argentina, Scalabrini não perdeu a oportunidade de mostrar o seu amor mariano. Em todos os lugares recordava o amor maternal de Nossa Senhora. Fazia questão de celebrar a Eucaristia nos santuários marianos. Insistia na preparação das festas jubilares da Mãe de Nosso Senhor, cuja Imaculada desejava celebrar com o povo da sua Diocese. Mesmo com o cansaço de seis meses de viagens e muitas fadigas, no dia 08 de dezembro, dia da Imaculada, por horas, esteve distribuindo a Eucaristia e pronunciou uma inflamada homilia.

“Nosso século teve vários nomes. Uns o chamaram o século das luzes e do progresso, outros o século do telégrafo e do vapor. Estes, o chamaram o século das ciências químicas e matemáticas; aqueles, o século das discussões e da liberdade. Nós o chamaremos o século da Imaculada! Sim, os outros nomes poderão ser um dia contestados, poderão cair no esquecimento, este nunca. É certo, ó diletíssimos, em que século, mais que no nosso, foi ou poderá ser tão universal, tão vivo, tão apaixonado, o afeto para com a Imaculada Mãe de Deus?” (Homilia de São Scalabrini).

A exemplo do amor desmedido de São Scalabrini à Imaculada, cada 08 de dezembro, todos os religiosos Scalabrinianos de votos perpétuos realizam a Renovação Devocional dos Votos Religiosos. Pedindo à Mãe de Jesus a graça da fidelidade e de poder testemunhar o Reino de Deus através da vida, em busca da perfeita caridade no serviço apostólico dos migrantes.


Texto: Oscar Ruben López Maldonado e Vitor da Cruz Azevedo.

Foto: Artvee.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria.

Concordo