No Dia Nacional do Imigrante Italiano, comemorado em 21 de fevereiro, o Brasil homenageia a chegada de milhares de italianos que, desde o século XIX, contribuíram significativamente para a formação da sociedade brasileira. Com sua força de trabalho, cultura e perseverança, os imigrantes italianos deixaram um legado marcante no país. No entanto, sua história é também uma narrativa de dificuldades, desafios e lutas em busca de uma vida melhor.
Entre 1820 e 1920, mais de 60 milhões de europeus abandonaram suas terras na busca por melhores condições de vida, e muitos desses migrantes eram italianos. O fenômeno migratório teve como principais causas a revolução industrial, a transformação das zonas rurais em áreas industriais, a escassez de trabalho e o agravamento das condições sociais e econômicas da Europa. A Revolução Industrial e o advento do barco a vapor e do trem encurtaram distâncias e permitiram que milhares de italianos, muitos em situação de extrema necessidade, deixassem sua terra natal em direção a países como o Brasil, Estados Unidos, Argentina e Austrália, onde enfrentaram uma dura realidade, marcada pela escassez, pelo trabalho extenuante e pela saudade de sua pátria.
A chegada dos migrantes italianos ao Brasil, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, foi uma parte importante da construção do país. Os italianos desbravaram terras, trabalharam na agricultura, contribuíram para o desenvolvimento do setor cafeeiro e ajudaram a moldar diversas cidades com sua dedicação e esforço. O trabalho na construção das ferrovias e na indústria também foi essencial para o crescimento do país.
A contribuição dos migrantes italianos para a cultura brasileira
Além de sua importância econômica, os migrantes italianos tiveram um impacto profundo na cultura brasileira. A influência italiana se reflete em diversos aspectos da vida cotidiana no Brasil, desde a gastronomia, teatro e música. A forte tradição de trabalho com a terra também foi transmitida, com os italianos contribuindo para a formação de uma sólida base agrícola e rural, especialmente no sul do país.
No campo da arquitetura, os italianos marcaram presença na construção de diversas cidades e edifícios, deixando um legado visual que até hoje pode ser observado em várias regiões, como em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina. Além disso, muitos italianos que imigraram para o Brasil trouxeram consigo a valorização das artes, da educação e da literatura, influenciando a cultura nacional por meio de suas tradições e criatividade.
Os primeiros filhos adotivos de Scalabrini
O drama dos migrantes italianos não passou despercebido para Dom João Batista Scalabrini, na época, Bispo de Piacenza, que se tornou uma das figuras mais importantes no apoio aos migrantes. A sua profunda empatia com a causa foi despertada de forma marcante por uma cena que mudou drasticamente sua visão sobre o sofrimento de seu povo.
Scalabrini, ao passar pela estação de Milão, presenciou centenas de migrantes italianos, com rostos cansados e marcados pelas adversidades da vida, estavam ali, em busca de um futuro melhor, mas imersos na incerteza. Ele descreve com emoção o que viu: “Nos seus rostos bronzeados pelo sol, marcados por rugas precoces que a privação costuma imprimir, apareciam o tumulto dos afetos que agitavam seus corações naquele momento. Eram velhos curvados pela idade e pelas fadigas, homens na flor da virilidade, mulheres que levavam após si ou carregavam ao colo suas crianças… eram migrantes.” Este momento despertou em Scalabrini uma profunda inquietude, levando-o a questionar como poderia ajudar aqueles que estavam em busca de um futuro melhor, mas que se viam diante de tantas dificuldades e perigos.
Foi a partir desse momento que seu coração se inflamou pela causa dos migrantes, e ele tomou a decisão de agir de forma concreta. Ele vislumbrou uma resposta não apenas na ação caritativa, mas também em uma estrutura mais sólida e organizada que pudesse garantir assistência espiritual, moral e material aos migrantes.
A Congregação dos Missionários de São Carlos e o apoio aos migrantes italianos
Em resposta àquele impulso de compaixão e à necessidade urgente de apoio, São João Batista Scalabrini fundou, em 28 de novembro de 1887, a Congregação dos Missionários de São Carlos, com o objetivo de prestar assistência religiosa, social e humanitária aos migrantes italianos. O trabalho de Scalabrini buscava não apenas aliviar o sofrimento imediato, mas garantir uma vida mais digna e segura para aqueles que estavam longe de casa, sem apoio e em condições difíceis.
A fundação da Congregação foi um marco na história da Igreja Católica, pois Scalabrini criou um modelo de assistência a migrantes que ia além da caridade material, proporcionando aos migrantes também um apoio espiritual fundamental para enfrentar os desafios da migração. Seu trabalho envolveu a criação de estruturas que ofereciam não só suporte religioso, mas também apoio moral e psicológico, além de lutar por leis e políticas que garantissem a dignidade dos migrantes.
A Migração no Contexto Atual
Embora as condições de migração tenham mudado ao longo dos anos, as questões que levaram os italianos a emigrarem no século XIX continuam a ser as mesmas para muitos migrantes ao redor do mundo. No contexto atual, a migração se tornou um fenômeno global, com milhões de pessoas forçadas a abandonar suas terras devido a conflitos, perseguições, desastres naturais e crises econômicas.
Em um mundo onde a mobilidade humana é uma constante, a mensagem de São João Batista Scalabrini permanece mais relevante do que nunca. Seu trabalho pioneiro na defesa dos direitos dos migrantes e sua visão de uma Igreja atenta ao sofrimento dos mais vulneráveis continuam a guiar as ações da Congregação dos Missionários Scalabrinianos.
O Dia Nacional do Imigrante Italiano não é apenas uma data para celebrar a contribuição histórica dos migrantes italianos ao Brasil, mas também uma oportunidade para refletirmos sobre o sofrimento, as conquistas e os desafios enfrentados por todos os migrantes. A figura de São João Batista Scalabrini nos lembra da importância de acolher, defender e proteger os direitos daqueles que buscam uma vida melhor, seja no passado ou no presente.
Texto: Vitor da Cruz Azevedo, Setor de Conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.
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