O Profetismo de São João Batista Scalabrini

À medida que vamos conhecendo Dom João Batista Scalabrini, vamos também descobrindo aspectos específicos da sua personalidade. Neste artigo, iremos abordar o seu profetismo, que o coloca num patamar muito além do seu tempo histórico. É importante realçar que o profetismo aqui se entende como a capacidade de olhar a realidade com os olhos da fé e oferecer uma resposta concreta. Dom João Batista Scalabrini foi um homem do seu tempo, mas foi capaz de iluminar com a sua fé o seu tempo e, ao mesmo tempo, antecipar épocas vindouras.

Provisoriedade do caminho: uma igreja em saída.

Dom João Batista Scalabrini resgatou a antiga concepção eclesial que especifica a condição peregrina da Igreja. Dom Scalabrini a entendeu e a viveu durante todo o tempo em que foi o prelado de Piacenza. Visitou cinco vezes as mais de trezentas paróquias da sua diocese. A viveu, porém, não apenas como uma opção pastoral, mas como uma realidade espiritual íntima. Para Dom Scalabrini, Deus era o todo que envolvia a realidade humana. Por isso, é tão importante estar na presença de Deus para se alimentar espiritualmente e, depois, sair do templo para partilhar o que se viveu. Mais de cem anos antes do Papa Francisco, Dom Scalabrini já vivia e praticava o ser Igreja em saída.

Sensibilidade social: compromisso evangélico.

Para Dom Scalabrini, o compromisso com os mais pobres era natural, pois não era concebível ser cristão e não enxergar o sofrimento das pessoas. Motivo de escândalo seria não fazer nada pelos sofredores. Esta convicção do Pai dos Migrantes provinha da sua fé em Jesus Cristo, cuja ação na Galileia tornou-se parâmetro de seguimento e de fidelidade. São muitos os episódios em que o Bispo fez muito mais do que a caridade cristã exigia. Vendeu suas escassas posses para transformá-las em comida para os famintos. E, mais do que tudo, doou a sua vida em favor dos mais pobres.

A sua ação a favor dos migrantes é amplamente reconhecida e valorizada, sendo renovada e atualizada através das ações das e dos Scalabrinianos. São João Batista Scalabrini deve ser considerado mártir da migração, afirmação corroborada pela dedicação total do bispo de Piacenza nas visitas realizadas a seus filhos migrantes e seus missionários. Certamente, a sua vida foi encurtada por estas exigências pastorais.

Dom Scalabrini, na sua ação profética, denunciou as causas da migração, reforçando a ideia de que nenhum ser humano deveria ser obrigado a deixar a terra que ama. No entanto, se é a própria pátria que o expulsa, deverá procurar novos horizontes longe de casa. Dom Scalabrini ensinou aos migrantes a não esquecerem os valores da religião e da pátria, mas não hesitou em encorajar os migrantes a fazerem da terra que os acolhe uma verdadeira pátria, uma vez que é ela que lhes oferece as oportunidades negadas pela nação que os expulsou. Dom Scalabrini conseguiu ver na migração o desígnio de Deus, não como um castigo, mas como uma oportunidade. Deus, que conduz os caminhos dos seus filhos, transformará as lágrimas da migração em terra fértil para o encontro de culturas, para o desenvolvimento espiritual e material.

O Reino de Deus: onde ninguém mais será estrangeiro.

A convicção bíblica nos informa de que Deus é, inicialmente, o criador, o Pai de todos os seres humanos. Esta convicção nos leva a pensar numa fraternidade universal. Todas as fronteiras demarcadas com muros intransponíveis, criadas pelas pessoas para dividir, deveriam desaparecer. Dom Scalabrini conseguiu antever na migração esta possibilidade. Naturalmente, não se trata de negar a origem de cada ser humano, cuja cultura deve ser respeitada e valorizada. Mas, ao mesmo tempo, deve ser relativizada, porque o mais importante é o ser humano. Eis o coração da proposta do Reino de Deus que Jesus trouxe ao mundo: que sejamos irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus, tendo como único Rei o nosso Deus Pai.

Podemos concluir reafirmando que São João Batista Scalabrini é um profeta que conseguiu ler a história a partir da fé e da confiança na Providência Divina, o Senhor que conduz a história humana.


Texto: Oscar Ruben López Maldonado.

Foto: Arquivo Regional.

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