Solenidade de São José: Santo, pai e migrante

Neste dia 19 de março, celebramos a Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria e Patrono da Igreja. Esta festa litúrgica é marcada pela veneração de um grande Santo, cuja vida exemplifica virtudes fundamentais como fé, obediência, humildade e, especialmente, acolhimento. Em sua vida, encontramos também um profundo elo com as questões da migração, um tema atual e urgente. São José nos ensina, através de sua experiência, o verdadeiro significado de cuidar e proteger os mais vulneráveis.

São José na Tradição da Igreja

Ele é descrito no Evangelho de Mateus como um homem "justo" (Mt 1,19). A sua justiça não se resume a ações externas, mas reflete sua obediência interior a Deus, sua disposição em seguir a vontade divina, mesmo quando isso significava fazer sacrifícios pessoais significativos. A Igreja tem sempre reconhecido São José como um modelo de virtude, especialmente em sua proteção e cuidado com Maria e Jesus.

O Papa Pio XII, na sua encíclica Redemptoris Custos (1962), sublinha o papel de São José como "guardião" da Sagrada Família e exemplo de trabalhador honesto. São José, com sua profissão de carpinteiro, nos ensina a dignidade do trabalho e a importância do serviço a Deus e à família, elementos que são fundamentais no plano de Deus para a salvação da humanidade. Sua vida, simples e discreta, é um testemunho de como a santidade pode ser vivida no cotidiano, longe dos holofotes.

A vida de São José e a migração

São José, no entanto, não apenas personifica a virtude do trabalho, mas também a experiência da migração. A passagem bíblica em que ele é chamado a fugir para o Egito com Maria e o Menino Jesus, devido à ameaça de Herodes (Mt 2,13-15), oferece um paralelo claro com a realidade de muitos migrantes e refugiados ao longo da história e nos dias de hoje.

Segundo o Pe. Donald H. Calloway, no livro São José - As Glórias de Nosso Pai Espiritual, a fuga para o Egito revela a coragem e a obediência de São José, que não hesitou em seguir a orientação divina, mesmo diante do desafio de deixar sua terra natal e enfrentar um novo começo em um país estrangeiro. Pe. Calloway destaca que essa experiência de José como migrante é profundamente significativa, pois ela coloca em evidência a providência de Deus em momentos de grande dificuldade e insegurança.

O Catecismo da Igreja Católica, em seu parágrafo 1193, afirma que "o cristão é chamado a seguir a Jesus, o Filho de Deus, na obediência, e a imitar São José, que, pela obediência a Deus, se fez guardião da Sagrada Família". A fuga para o Egito não só marca a vida de São José, mas também simboliza a experiência de muitos migrantes que, ao longo da história, se viram forçados a deixar suas casas em busca de segurança, dignidade e proteção.

A vida de São José, portanto, pode ser vista como um reflexo das situações enfrentadas por milhões de migrantes ao redor do mundo. Assim como ele teve que confiar em Deus para dar passos de fé em direção ao desconhecido, muitos migrantes também são chamados a confiar em Sua providência enquanto buscam segurança, dignidade e uma nova vida em terras estrangeiras.

A solidariedade com os Migrantes

São José se tornou, ao longo dos séculos, uma figura importante para a Igreja no que diz respeito à acolhida e ao cuidado com os migrantes. O Papa Francisco, em sua exortação Fratelli Tutti (2020), nos chama a praticar uma "cultura do encontro", onde as diferenças são superadas pelo amor e pelo respeito. Ele afirma: “É necessário criar uma sociedade onde ninguém se sinta estrangeiro” (FT 128). Neste contexto, a vida de São José é um exemplo claro de como devemos acolher os outros, especialmente os que estão à margem da sociedade.

São José é também invocado como protetor dos migrantes, e sua intercessão é pedida em diversas situações de deslocamento forçado. Sua história é um lembrete de que a fé em Deus nos leva a ser agentes de acolhimento, especialmente para aqueles que, assim como ele, se veem obrigados a abandonar suas casas para proteger suas famílias ou buscar um futuro melhor.

Oração a São José pelos migrantes

Na Solenidade de São José, é oportuno refletir sobre a migração forçada de tantas pessoas ao redor do mundo e pedir sua intercessão. Em muitos países, especialmente em tempos de crise, os migrantes enfrentam desafios imensos para encontrar refúgio e recomeçar suas vidas. Pedimos a São José que interceda por todos aqueles que estão em situações de deslocamento, que ele lhes traga a paz e a proteção que ele mesmo experimentou ao cuidar da Sagrada Família.

O Papa Pio XII, em sua encíclica Redemptoris Custos, também nos lembra que São José “não teve medo de arriscar sua segurança e sua estabilidade, confiando plenamente na providência divina” (RC 27). Que possamos, então, seguir o exemplo de São José, acolhendo os que chegam, confiando na providência de Deus e oferecendo nosso apoio e solidariedade aos que mais necessitam.

A Solenidade de São José é uma oportunidade para a Igreja refletir sobre a importância da fé, do trabalho, da proteção da família e do acolhimento dos migrantes. São José, como patrono dos trabalhadores e protetor da Igreja, nos ensina a viver em obediência à vontade divina e a praticar o amor e a solidariedade, especialmente com aqueles que enfrentam a dura realidade da migração. Que, neste dia de sua festa, possamos renovar nossa vocação ao serviço, à acolhida e ao cuidado do próximo, seguindo o exemplo desse grande santo que, com humildade e coragem, confiou plenamente no plano de Deus para sua vida e para a Sagrada Família.

Que a intercessão de São José nos inspire a viver com mais generosidade e fé, acolhendo os outros como ele acolheu Maria e Jesus. E que, através de sua proteção, possamos ajudar a construir um mundo mais justo e solidário, onde todos, especialmente os migrantes, encontrem um lar seguro e acolhedor.

Texto: Vitor da Cruz Azevedo, Setor de Conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.

Foto: Jozef Sedmak.

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