Acolher e ser acolhido

Nos últimos anos a Igreja tem recuperado por meio do Magistério e da pregação do Evangelho o convite à que todos os fiéis cristãos possam aprofundar sua fé e sua espiritualidade, convencendo-se de que a responsabilidade pela evangelização e pela construção de uma nova sociedade é de todos os batizados. E a fé e a espiritualidade se encontram enraizadas em Jesus Cristo e no seu Evangelho. Afirma São João: “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho único” (Jo 3, 16); uma das personificações desse amor é a acolhida: todos os homens e mulheres são amados e acolhidos por Deus incondicionalmente sem que se considerem critérios que digam sim a uns e não a outros. A acolhida é muito significativa para a Escritura, para a pessoa de Jesus e para a Igreja. Tal acolhida se estende a todos aqueles que estão carentes de amor e que em suas limitações e situações, se apresentam à comunidade de fé.

Na Oração Eucarística VI ao encontrar-se a comunidade reunida com Cristo, à luz da fé, pede-se ao Pai que seus fiéis após reconhecer os sinais dos tempos, empenhe-se, de verdade, no serviço do evangelho tornando-nos abertos e disponíveis para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias, as alegrias e as esperanças, e andar juntos no caminho do Reino de Deus. Em outras palavras, para bem acolher é necessário a humanidade. Humanizar pode ser traduzido no modo de proceder de Jesus: a misericórdia. Ele sabia sentir a dor dos outros e se posicionava no lugar dos outros. Desta forma, ao acolher, humanizar e ser misericordioso, renovamos a Igreja e damos credibilidade à nossa fé e espiritualidade.

O Papa Francisco por meio de discursos e gestos sempre afirmou que acolher os migrantes está em sintonia com o Evangelho: “perante o drama dos migrantes forçados, que infelizmente se torna por vezes uma tragédia, vós não ficastes indiferentes, mas perguntastes-vos: eu, nós, o que podemos fazer? Vós não olhais para o outro lado. Na base desta atitude está a convicção de que cada ser humano é único e a sua dignidade é inviolável, independentemente da sua nacionalidade, cor da pele, opinião política ou religião”.

Por fim, há, no tempo presente, uma necessidade de uma espiritualidade da acolhida: acolher bem e aceitar ser acolhido destrava o nosso coração para a humanização assim afirma Francisco: “Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida”. Não podemos pretender aumentar a fé e crescer na espiritualidade caindo na miséria do fechamento, em atitudes xenófobas, no desprezo e até mesmo em maus-tratos àqueles que são diferentes. “Para isso, é importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos”.


Texto: Pe. Carlos Alberto do Carmo Barbosa, CS.

Foto: Adobe Stock.

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