
“A morte foi engolida na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Cor15,54-55)
Com as palavras de São Paulo, iniciamos esta jornada quaresmal, um tempo de conversão e renovação, um tempo em que somos chamados a fortalecer nossa fé na Ressurreição de Cristo e a redescobrir a esperança como o fundamento de nossa missão. A Quaresma é uma peregrinação interior e comunitária que nos convida a renovar nosso compromisso com a oração, o jejum e a caridade. Vamos nos preparar para a Páscoa, para a vitória da vida sobre a morte, deixando-nos transformar pela graça de Deus, para redescobrir o profundo significado de nossa vocação e para discernir o que realmente alimenta nossa espiritualidade e a nossa missão.
Vivemos em uma época marcada por incertezas e medos, que afetam não apenas a dinâmica global, mas também nossa maneira de habitar o presente. Guerras, violência e crises econômicas minam a confiança no futuro. O oposto do medo não é a coragem heroica, mas a esperança, aquela esperança cristã que não se baseia em nossa própria força, mas na certeza de que a nova vida em Cristo já começou.
“A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as actividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade” (CIC 1818). A virtude teológica da esperança deve guiar nossa fé e sustentar nossa caridade laboriosa.
Nessa perspectiva de conversão como fruto da esperanza, o 16º Capítulo Geral nos exorta a iniciar o nosso caminho como “peregrinos da esperança”, um percurso que marcará os próximos seis anos. Como o Papa Francisco nos recorda em sua mensagem “caminhemos juntos na esperança” para a Quaresma de 2025, “Deus pede-nos que verifiquemos se nas nossas vidas e famílias, nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, somos capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as nossas próprias necessidades”.
Para nós, Missionários Scalabrinianos, essa pergunta se traduz em um compromisso concreto de renovar nossa missão: redescobrir o valor de nossa consagração como sinal de esperança, fortalecer nossa presença ao lado de migrantes, refugiados e marinheiros como peregrinos de esperança, consolidar o diálogo com os leigos que compartilham nosso carisma e promover ações concretas que restaurem a dignidade e os direitos dos mais vulneráveis. O Projeto Missionário nos lembra que somos chamados a ser “pessoas consagradas cheias de esperança”, instrumentos do amor vivo de Cristo.
Vamos acolher esta Quaresma como uma jornada de graça para nos deixarmos transformar pela Palavra de Deus e pelo encontro com nossos co-irmãos e com irmãos e irmãs, migrantes, refugiados e marinheiros. É um tempo para purificar o nosso olhar, para redescobrir o valor da fraternidade e da sinodalidade: comunhão e participação na missão da Igreja. O Senhor nos chama a ser testemunhas da esperança que não decepciona, a caminhar com confiança mesmo nas dificuldades: “Sede alegres na esperança, resistentes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12,12).
Confiemos este tempo de Quaresma a Maria, Mãe da Esperança, para que ela nos acompanhe e interceda sempre por nós. Que nosso fundador, São João Batista Scalabrini, prepare nossos corações para a fidelidade criativa na missão que o Senhor nos confiou.
Texto: Pe. Leonir Mario Chiarello, CS Superior Geral da Congregação dos Missionários de São Carlos.
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