
A Sociedade São Rafael, organização idealizada por São João Batista Scalabrini em 1889 para apoiar migrantes nos portos de embarque e chegada, completa 136 anos neste sábado, 12 de abril. A data também marca o Dia do Leigo Scalabriniano, instituído para destacar o papel dos fiéis leigos na missão evangelizadora e no serviço junto a migrantes e refugiados.
Fundada em Piacenza, na Itália, a Sociedade São Rafael surgiu como reposta concreta de Dom Scalabrini à crescente realidade migratória da época. Inspirando-se em modelos similares já existentes na Europa, como a sociedade homônima voltada aos imigrantes alemães, Scalabrini propôs uma organização que unisse religiosos e leigos para atender às necessidades morais e materiais das pessoas em mobilidade humana.
A atuação da Sociedade São Rafael foi intensa, embora breve – pouco mais de três décadas – com presença marcante nos portos de Gênova, Nova Iorque e Boston. Ali, leigos e missionários enfrentavam desafios linguísticos, econômicos e sociais para proteger os migrantes de abusos, fraudes e desamparo, oferecendo orientação, acolhida e assistência nas etapas mais vulneráveis da travessia migratória.
Mais do que uma estrutura institucional, a São Rafael representava um modelo de cuidado integral e fraterno, que via nos migrantes não apenas pessoas com direitos, mas irmãos e irmãs a serem amparados com dignidade. Esse modelo permanece atual e inspira, a atuação dos Leigos Scalabrinianos no mundo inteiro.
O legado continua: protagonismo leigo e missão compartilhada
Ao fundar a Sociedade de São Rafael, Scalabrini antecipava uma compreensão inovadora para seu tempo: o papel fundamental dos leigos na vida e missão da Igreja. Ele via os leigos não como coadjuvantes, mas como protagonistas, agentes corresponsáveis no cuidado pastoral e social dos migrantes. “Entendam, portanto, a nobreza e a grandeza da vossa missão, ó leigos, e assegurem-se de corresponder-lhe dignamente”, afirmava Scalabrini em 1901.
A visão do fundador se fortaleceu com o Concílio Vaticano II, que reconheceu oficialmente a vocação e a missão do laicato na Igreja e no mundo. Desde então, a Congregação dos Missionários de São Carlos – Scalabrinianos tem promovido diferentes formas de agregação e engajamento dos leigos em suas missões.
O Movimento Leigo Scalabriniano (MLS) é uma dessas expressões vivas. Presente em diversos países, o MLS atua junto a migrantes e refugiados por meio de acolhida, voluntariado formação, incidência política, ação cultural e evangelização. Com base nos pilares da espiritualidade, do serviço e do compromisso com a justiça, os leigos continuam a levar adiante a chama acesa por Scalabrini em 1889.
Uma inspiração atualmente
Passados 136 anos, a realidade migratória continua sendo um dos maiores desafios do nosso tempo. Guerras, crises humanitárias, perseguições e desastres ambientais impulsionam milhões a deixar suas casas em busca de segurança e dignidade. Nesse contexto, o Carisma Scalabriniano – nascido da experiência da Sociedade São Rafael – continua atual e necessário.
Relembrar a Sociedade São Rafael é mais do que um ato de memória histórica: é um chamado a reviver os valores que inspiraram sua fundação. É reconhecer que a missão junto aos migrantes exige corações sensíveis, mãos generosas e mentes abertas. E é reafirmar que os leigos têm, ontem e hoje, um lugar essencial nesse caminho.
Neste dia 12 de abril de 2025, celebremos com gratidão e esperança os 136 anos da Sociedade São Rafael e o Dia do Leigo Scalabriniano, pedindo que o exemplo de São João Batista Scalabrini continue inspirando novas gerações de homens e mulheres a viverem seu batismo com coragem, fé e amor, a serviço dos migrantes e refugiados do mundo inteiro.
Texto: Vitor da Cruz Azevedo, Setor de Conteúdo do Departamento Regional de Comunicação.
Foto: Arquivo Regional da RNSMM