120 anos da visita de São Scalabrini ao Brasil e à Argentina - Parte I

Diário de Bordo de Dom Scalabrini

Dom Scalabrini confirma que visitará o Brasil no começo de 1904. O Pe. Faustino Consoni responde manifestando a sua alegria por tão grata decisão. Devemos lembrar que na época, a Congregação ainda não tinha paróquia sob seus cuidados em São Paulo. Existiam missões, cuja base era o Orfanato Cristóvão Colombo. De fato, as primeiras paróquias assumidas pelos scalabrinianos foram: no Paraná, Santa Felicidade, em 1888; no Rio Grande do Sul, Encantado, em 1896 e em São Paulo, São Bernardo do Campo, em 1904.

Assim, Dom Scalabrinini e mais alguns missionários e missionárias partem, refazendo o itinerário realizado por tantos imigrantes italianos. Desde o primeiro dia no navio, para sorte nossa, Dom Scalabrini escreve um diário. Desse modo, compartilha conosco suas impressões sobre o dia a dia, suas ocupações, sua dedicação pastoral durante todo o trajeto. Ficamos sabendo também sobre o tempo em alto mar, sobre a saúde, e outros pequenos acontecimentos diários.

A viagem começa na sexta-feira, 17 de junho de 1904. As primeiras palavras escritas no diário referem-se às despedidas e à entrega completa desta missão a Deus. Narra também o seu encontro com um coronel brasileiro com quem o bispo conversa em português. Dom Scalabrini percebe a alegria do seu interlocutor ao poder se comunicar na própria língua. O Bispo, sensível, percebe a importância da própria língua para o estrangeiro, como se fosse seu refúgio, a sua casa. 120 anos depois desta viagem de Dom Scalabrini, em muitos lugares do Brasil, os imigrantes conservam a sua língua materna. Muitos ainda falam diferentes dialetos, que expressam melhor a memória, o amor e a saudade.

Dom Scalabrini anota em seu diário que celebra a Santa Missa diariamente, e que muitos recebem a comunhão com fé. Quando o mar e os ventos permitem, costuma falar aos imigrantes sobre o evangelho, muitos se comovem até as lágrimas. A maioria nunca havia visto um bispo, e certamente irão demorar em ver outros. Imediatamente Dom Scalabrini organiza, com os religiosos e religiosas que o acompanham, catequese para a primeira comunhão e crisma. Em duas ocasiões registra a primeira comunhão de alguns jovens e adultos. E quase no fim da viagem nos deixa saber que muitos foram crismados.

O Bispo Scalabrini anota em seu diário de bordo que alguns passageiros ficaram doentes durante o trajeto, inclusive a maioria dos religiosos que o acompanhavam. Os efeitos da maresia cobravam o seu preço. O balanço do navio, comidas malconservadas, água contaminada etc., deixaram prostrados muitos deles. Dom Scalabrini, porém, agradece a Deus a sua boa saúde e por não ter sentido os efeitos da navegação.

A viagem foi relativamente tranquila, pois costuma ser dramática em algumas circunstâncias. Há muitas narrativas sobre fome e sede, naufrágio, pestes que dizimaram passageiros, mas graças ao bom Deus, o navio estava se aproximando da cidade do Rio de Janeiro.

O último registro no diário de Dom Scalabrini, dentro do navio, foi da quarta-feira, 06 de julho de 1904. Após vinte dias no mar, finalmente, iria desembarcar, entendia que a travessia era uma verdade missão pastoral, que fazia parte do programa da sua visita. “A primeira parte do programa está felizmente terminando. Agradeçamos juntos a Deus e a Virgem Imaculada pelo bem que foi feito e pela assistência que me dispensou. Comovido, levanto o coração ao seu trono e digo um grande e cordial muito obrigado, para expressar tantos agradecimentos e tanto louvor”.

Quinta-feita, 07 de julho de 1904. Da chegada de Dom Scalabrini ao Rio de Janeiro, seu encantamento com a beleza da natureza da cidade maravilhosa, e a acolhida do Arcebispo, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, o sabemos a partir das cartas que escreveu.

Do Rio Janeiro, Dom Scalabrini, tomaria o trem que o levaria a São Paulo, mas é convencido que é melhor prosseguir viagem em navio até o Porto de Santos. Assim, tem mais tempo para conversar com Dom Arcoverde. “Falei a este Arcebispo da necessidade da assistência ao porto e de uma igreja italiana na cidade e ele se mostrou muito favorável”.

Esta inciativa de Dom Scalabrini não progrediu, senão cinquenta anos depois, quando os Scalabrinianos chegaram ao Rio de Janeiro, no bairro Braz de Pina para iniciar a Comissão de Migração e Pastoral dos italianos, em 1954. A Paróquia pessoal dos italianos foi assumida em 1956, no bairro Botafogo. E em 1961, em vista do acompanhamento pastoral dos migrantes internos, foi assumida uma paróquia no bairro Quitungo. Em 1966, a Paróquia Santa Cecília e São Pio X, no Botafogo, em 1973 foi construída uma casa para idosos, Casa Vila do Sol, e em 1998, em vista da Pastoral no porto, como sonhava Scalabrini, a Stela Maris.

Atualmente, na primeira cidade brasileira que acolheu São João Batista Scalabrini, os Missionários Scalabrinianos mantêm a Paróquia Santa Cecília e São Pio X, no Botafogo, e a Stela Maris, no porto do Rio de Janeiro.


Oscar Maldonado

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