
Por ocasião dos 120 anos da visita do Santo Fundador ao Brasil, hoje vamos conhecer um importante missionário Scalabriniano para o Estado de São Paulo, que acolheu, com muito carinho, o Fundador, São João Batista Scalabrini, no Orfanato Cristóvão Colombo em 1904. O bispo visitou os imigrantes italianos na cidade e no interior de São Paulo, inaugurou o Orfanato feminino da Vila Prudente e nomeou o Pe. Faustino Consoni como Superior dos Scalabrinianos no Brasil.
Pe. Faustino Consoni nasceu em Palazzolo sull'Oglio (Brescia) em 1º de dezembro de 1857. Esforçou-se para encontrar o rumo certo na vida religiosa: no começo procurou seguir o caminho franciscano, mas a sua saúde o impediu, sendo abrigado a se retirar. Ingressou no Instituto criado pelo Mons. Mander. Este havia recolhido várias vocações numa instituição que depois foi conhecido como o Instituto do Mons. Mander. Faustino Consoni sentiu-se atraído por essa escola, que oferecia uma ocasião propícia para continuar os seus estudos.
Assim como outros vocacionados que estudaram no Instituto de Mons. Mander, Faustino Consoni passou do Instituto para a Congregação dos Missionários de São Carlos em dezembro de 1891, sendo ordenado sacerdote pelo próprio Fundador, São João Batista Scalabrini, em 31 maio de 1893, tinha 36 anos.
Foi enviado ao Brasil com dois outros companheiros, os padres Francesco Brescianini e Marco Simoni. No Brasil, foi destinado ao Paraná, terra dos primeiros missionários Scalabrinianos, Colbacchini, Molinari e Mantese. Permaneceu por dois anos em Santa Felicidade e em 1897, após a morte do Pe. Marchetti, assumiu a direção do orfanato Cristóvão Colombo em São Paulo, assumindo inclusive a reitoria da Igreja Santo Antônio.
Nunca mais saiu de São Paulo, convertendo-se na alma dos dois orfanatos e da própria Congregação nesta parte do mundo. Sacerdote missionário por excelência, assumiu a sua missão com paixão e coragem. Percorreu as fazendas para proteger os direitos dos imigrantes italianos; com pouca comida, cavalgava por dias a fio sob o sol ou a chuva, descansando ao ar livre. Tudo isso fez dele um verdadeiro missionário. Soube manter uma relação cordial com “os grandes” da cidade.
Foi Superior Provincial de 1904 até 1911. A antiga Provincia São Paulo seria incompreensível sem a presença carismática deste importante missionário que entregou a vida pela missão. Conhecido na cidade como o “pai dos pobres”, foi por quase meio século, auxílio dos necessitados, um confessor santo, guia espiritual de religiosos e religiosas. Ajudou muitos sacerdotes a superarem a crise e retomar o caminho.
No Orfanato Cristóvão Colombo enfrentou sérias questões econômicas, que conseguiu sanar depois de um tempo. Pagas as dívidas, concluiu as obras, graças ao seu esforço e de seus companheiros missionários. Conseguiu o apoio de muitas pessoas de posse, da cidade de São Paulo, e até de outros estados, benfeitores que mantiveram o orfanato e possibilitaram o cuidado de inúmeras crianças.
Também superou, com extremo sacrifício e muita dor, a acusação promovida por um grupo radical de anárquicos e anticlericais, sobre o desaparecimento de uma menina do orfanato. Acusação falsa, pois finalmente o orfanato, assim com o Pe. Faustino, foram inocentados. Mas foram anos dolorosos que dividiu a comunidade italiana.
Após a morte do Pe. Faustino, o jornal O Estado de São Paulo, pouco amável, na época, com a Igreja e com os italianos, publicou uma nota afirmando quanto segue: “Impávido, sereno, calmo e sempre ativo no cumprimento da sua missão, teve de enfrentar grande furação, que a maldade humana planejou na obscuridade, para abater a obra benéfica de caridade e de fé católica que se empenhara em fazer progredir: os dois orfanatos, do Ipiranga e de Vila Prudente”.
Além de ter sido o principal dinamizador da Congregação dos Missionários de São Carlos em São Paulo, as Irmãs Scalabrinianas também encontrar nele um protetor, e um grande incentivador, assim como outras congregações que encontraram no Pe. Faustino um amigo e um irmão. A Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo, conhecidos como Estigmatinos, enaltecem os Scalabrinianos no Brasil e, em São Paulo, a figura do Pe. Faustino Consoni a quem consideram o anjo da guarda e o santo protetor.
Eis um testemunho dos Estigmatinos: “É preciso falar de um Scalabriniano, em particular, que por muitos e muitos anos foi nosso Anjo da Guarda: o Pe. Faustino Consoni. (...) Dezembro de 1910 (...) se reúnem na cidade de São Paulo, junto aos Missionários de São Carlos ou Scalabrinianos, no Orfanato Cristóvão Colombo, cujo diretor é o Pe. Faustino Consoni, bresciano: coração de ouro, que sempre mostrou um grande afeto por nós. (...) Oh! Encontramos um santo sacerdote, o Pe. Faustino Consoni, dos Scalabrinianos; nos hospeda em seu orfanato, nos trata como irmãos; você vai ver que delicadeza, que caridade! (...) Eu estava abobado. Chegamos a um grande portão de ferro. Um padre veio nos receber. Era Pe. Faustino que, assim tarde da noite, havia esperado para me ver, saber se precisava de alguma coisa, mostrar-me o quarto, a cama, etc. Pe. Alexandre disse-me bem devagarzinho: ‘é o Pe. Faustino’. Esteve sempre ao nosso dispor. Hospedava-nos quando passávamos por São Paulo. Interessava-se por nós”.
Outro testemunho, não do final da sua vida missionária, mas bem no começo do seu apostolado no Paraná, para corroborar que o missionário sempre foi totalmente entregue à missão. O seu antigo companheiro no Instituto Mander, Pe. Antonio Seganfreddo, de passagem pelo Paraná, em setembro de 1896, descreveu assim ao seu coirmão: “Pe. Faustino não tem mais a poesia nessas terras, mas exercita a prosa. Corre como uma alma que não encontra paz. Gostaria de converter todo o Brasil. Visita os brasileiros e a muitos reconquistou para o bem. Empenha-se para fazer-se entender também pelos poloneses. Para todos tem um conselho, um conforto, uma exortação. Não tem nunca um minuto, nem de dia nem de noite. Se chamado para perto de um moribundo, não há hora nem caminho longo e difícil que o detenham. Vai com seu cavalo, pobre animal, como um relâmpago, ao ponto que chegou a cair duas ou três vezes, mas por isso não se detém... Está bem em relação ao tempo de Piacenza, onde estava sempre doente. Lamenta-se também aqui, mas, quando há trabalho, está sempre bem, isto é, cumpre com as suas obrigações, sem dificuldades... É um bom companheiro, porque não busca nem comodidades nem repouso; busca apenas fazer o bem para si e para os outros”.
Em 1904, por ocasião da visita do Fundador ao Brasil, Pe. Consoni acolheu Dom Scalabrini no Orfanato Cristóvão Colombo, que fez desta casa a sua casa durante todo o tempo que permaneceu em São Paulo, do dia 09 de julho até 08 de agosto de 1904.
Dom Scalabrini, antes de retornar, nomeou o Pe. Consoni como Provincial: “Querendo, como é nosso dever, suprir a necessidade, tendo invocado humildemente a ajuda de Deus e as luzes do Espírito Santo, decidimos nomear, pelo presente decreto, Superior provincial das missões de São Carlos no Brasil o Reverendíssimo Padre Faustino Consoni a quem todos os padres da Congregação de São Carlos deverão obedecer como seu legítimo e imediato Superior”.
O Pe. Faustino Consoni faleceu no Hospital Santa Catarina, acompanhado pelos seus coirmãos, em São Paulo, em 12 de agosto de 1933, tinha 76 anos, sendo considerado e invocado por muitos como um verdadeiro santo.
Para conhecer um pouco mais a vida do Pe. Faustino Consoni:
PORRINI, Carlo. Padre Faustino Consoni, CS – Pai dos Pobres e dos Órfãos! São Paulo, ICC, 2012.
FRANCESCONI, Mario. Padre Faustino Consoni. São Paulo, 2008.
Pe. Faustino Consoni em 1930, três anos antes da sua morte.
Pe. Faustino Consoni com as crianças no Orfanato Cristóvão Colombo.
Texto: Oscar Maldonado
Fotos: Acervo Regional - RNSMM