Padres que acolheram Scalabrini em 1904 (Parte III): Pe. Natale Pigatto (1861-1926)

Por ocasião dos 120 anos da visita do Santo Fundador, Dom João Batista Scalabrini ao Brasil, hoje vamos conhecer um missionário Scalabriniano importante para o Estado de Paraná, que, não obstante as dificuldades vocacionais iniciais realizou o seu sonho de ser missionário em nome de Jesus. Este religioso foi ordenado por Dom Scalabrini, que o enviou ao Brasil. Já na missão, recebeu com carinho o Fundador em Santa Felicidade, Curitiba, em 1904.

Natale Pigato nasceu em 24 de dezembro de 1861, na região de Mason Vicentino, Província de Vicenza, na Itália, manifestou a sua vocação sacerdotal desde cedo, mas foi coibido pela família. A partir das dificuldades familiares para a vida religiosa, assumiu a vocação matrimonial, casou-se com Felicidade Mottin, em 1885. Da união dos dois nasceu uma menina, Marina, que faleceu com poucos dias de vida. Um mês depois, faleceu também a esposa.

Desta forma, viúvo, depois de discernir, decidiu retomar o seu antigo sonho de ser sacerdote. Ele se lembra do tempo que decidiu retornar ao seminário: “Encontrava-me, um dia, cortando trigo, quando subitamente resolvi abandonar o trabalho e fui procurar seguir minha vocação”. Aos 26 anos de idade ingressou no Seminário de Oné de Fonte, em Treviso, seminário para vocações adultas, Instituto fundada pelo Mons. Mander. Este Instituto foi fechado, assim, Natale retornou para casa, porém em 1894 ingressou na Congregação dos Missionários de São Carlos e um ano depois foi ordenado pelo próprio Fundador, São João Batista Scalabrini.

Em 15 de novembro de 1896 embarcou para o Brasil. Era o primeiro religioso destinado para auxiliar o Pe. Marchetti nas lidas missionárias na cidade de São Paulo. Embora tivesse anunciado a sua chegada ao país, ninguém foi recebê-lo no porto de Santos, com a alegria que os missionários são acolhidos. A sua chegada, 14 de dezembro, infelizmente, foi marcada pela tristeza de uma despedida. Pe. Natale Pigato, sem entender por que tinham se esquecido dele, encaminhou-se da estação de São Paulo em direção ao Alto do Ipiranga. Aproximou-se do Orfanato e tudo estava imerso no silêncio. Encontrou as religiosas e as crianças prostradas diante do altar de Nossa Senhora de Pompéia, implorando pela saúde do Pe. Marchetti, que falece no mesmo dia, aos 27 anos de idade, vítima do tifo.

Padre Natale, viu-se, assim, “perdido” perante a difícil situação em que se encontrava a missão em São Paulo. Suportou com todas as suas forças e a sua fé os meses que teve de dirigir o Orfanato, devendo manter todas as crianças, que eram 180, pagar as dívidas e solucionar as questões mais difíceis. Escreveu a Dom João Batista Scalabrini para que alguém pudesse ocupar-se do Orfanato, que ele não se sentia capaz de permanecer à frente de tão delicada missão.

Assim, ficou em São Paulo poucos meses, sendo destinado depois para o Paraná onde substituiu o Pe. Faustino Consoni, que fora nomeado diretor do Orfanato Cristóvão Colombo. Chegou a Santa Felicidade, Curitiba, a 12 de março 1897, sendo acolhido com alegria pelo Padre Francesco Brescianini, seu colega de seminário. De Santa Felicidade, deslocava-se em visitas às colônias italianas, indo até Prudentópolis, Imbituva, Colônia São Carlos na Lapa, percorrendo mais de 30 localidades. Estas viagens eram feitas a pé, a cavalo ou em charrete.

Era um padre alegre e expansivo. Bem cedo passava na frente das casas, cantarolando, convidava as pessoas em tom jocoso para irem à igreja. Era um homem austero, cumpridor dos deveres. Ao raiar do dia, estava na igreja, ou nas capelas para atender aos fiéis. Chovesse ou não o dever estava acima de tudo. Na Estrada Velha de Campo Largo, atualmente denominada Estrada Mato Grosso, ouvia-se o Padre assobiando as ladainhas.

Quando o Fundador, São João Batista Scalabrini, visitou o Paraná em 1904, eram apenas dois missionários Scalabrinianos no Estado, assim, o Pe. Pigato e o Pe. Francesco Brescianini acolheram o Fundador na Paróquia Santa Felicidade. Dom Scalabrini deixou o Paraná muito contente com a missão, que chamou de missão modelo. Também pelo compromisso assumido para acompanhar os indígenas em Tibagi.

Depois de Santa Felicidade, o Pe. Natale Pigato exerceu o seu ministério pastoral também em Rondinha, de onde continuava visitando as colônias italianas.

Eram muitas as histórias que o povo paranaense contava sobre o Pe. Pigato, afirmavam que amava muito aos mais pobres, e que era capaz de dar tudo a estes, até mesmo a própria camisa. Em 1915, uma prolongada estiagem abateu-se sobre a região de Campo Largo, o Padre Natal Pigato chamou o povo a rezar, organizou uma procissão saindo de Rondinha e de Timbotuva. Quando chegaram a um campo chamado Braghetto, perto da Colônia Rebouças, “caiu um pé d’água que lava a alma até de quem conhece o fato só de ouvir falar”. Neste local, foi erguida uma cruz e décadas depois foi construída uma capela em homenagem à Nossa Senhora Medianeira. Os moradores mais antigos de Campo Largo, quando viam um temporal chegando, faziam orações pedindo a interseção de Padre Natal Pigato a Deus. Contam também que o Pe. Pigato com as suas orações conseguiu deter uma onda de gafanhotos que infestava a região. Muitos outros episódios são contados sobre a vida do Pe. Pigato, que ganhou fama de milagreiro e de santo.

Após 30 anos de dedicação aos imigrantes italianos no Brasil, especialmente do Estado do Paraná, o Pe. Natale Pigato adoeceu e, após três dias, a 11 de setembro de 1926, falece na casa paroquial de Rondinha.

No dia do enterro, um cortejo jamais visto o acompanhou, fiéis das colônias italianas, poloneses, os brasileiros de Campo Largo e adjacências, levaram o corpo do Padre Natal Pigato até o Campo Comprido, um trajeto de cerca de 20 quilômetros onde foi velado, durante a noite. No dia 13, novamente, uma multidão de povo seguiu a pé até Santa Felicidade, onde Padre Natal manifestou o desejo de ser sepultado.

Eis um testemunho importante: “Padre Natale Pigato é o missionário que permanece bem gravado na minha memória e revivido na saudade. Ardoroso e dinâmico, infatigável em suas jornadas apostólicas pelas diversas igrejas e capelas dos imigrantes, ansioso por levar-lhes com a sua presença a palavra viva e forte do Evangelho. Foi este operoso sacerdote que marcou a minha vida na primeira década deste século” (Dom Jerônimo Mazzarotto, Bispo auxiliar de Curitiba – PR).


Paróquia São Sebastião, de Rondinha – PR, onde o Pe. Natale Pigato viveu seus últimos anos de vida.

 

Santa Felicidade, primeira missão do Pe. Natale Pigato no Paraná, onde foi enterrado.


Texto: Oscar Maldonado

Fotos: Acervo Regional - RNSMM

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