
A história dos Scalabrinianos nos países que formam a atual Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes (RNSMM) começou com a chegada dos primeiros missionários enviados pelo próprio fundador, São João Batista Scalabrini. Em 1888 vieram dois grupos para o Brasil, um se dirigiu para o estado do Espírito Santo e outro para o Paraná. A escolha destes lugares obedeceu, naturalmente, à presença dos migrantes italianos, mas não apenas isso, pois havia sacerdotes italianos que comungavam do carisma de Scalabrini e desejavam servir pastoralmente as pessoas em mobilidade. Infelizmente a Missão no Espírito Santo terminou em 1893, por diversos fatores, que tem a ver essencialmente com a falta de religiosos comprometidos.
No Paraná, a missão teve um prosseguimento salutar com resultados missionários admiráveis, que perduram até os nossos dias. A missão em Santa Felicidade, visitada por Dom Scalabrini em 1904, continua até hoje, procurando se adaptar às novas exigências da mobilidade humana.
Após a chegada dos primeiros missionários, os envios subsequentes ampliaram ainda mais a presença Scalabriniana. Em 1895, os missionários chegaram ao Estado de São Paulo, seguido pelo Rio Grande do Sul em 1896. Já em 1890, Dom Scalabrini enviou religiosos à Argentina, dando início à expansão da Congregação na América do Sul.
Em São Paulo, onde atualmente está localizada a sede da RNSMM, a primeira obra Scalabriniana foi o Instituto Cristóvão Colombo (ICC), fruto da iniciativa do Servo de Deus, Padre Giuseppe Marchetti. Pe. Marchetti revolucionou a atenção às crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Já no Rio Grande do Sul, o primeiro Missionário enviado foi o Pe. Domenico Vicentini, que iniciou a presença Scalabriniana em Encantado. Os frutos dessa missão, tanto materiais quanto espirituais, continuam a impactar o estado até os dias atuais.
A primeira presença missionária na Argentina durou apenas alguns anos, mas a consolidação efetiva ocorreu com a segunda vinda Scalabriniana, em 1940, marcada pela abertura de diversas paróquias, escolas e seminários. A partir daí, a missão se expandiu para outros países da América do Sul, chegando no Chile (1952), ao Uruguai (1962), ao Paraguai (1974), à Bolívia (1999) e ao Peru (2000). Esta trajetória representa a gênese da presença missionária nos países que hoje formam a Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes.
À medida que mais Missionários chegaram ao Brasil, surgiu a necessidade de designar um Superior para coordenar as atividades de todos os Scalabrinianos no país. Devido às dificuldades de comunicação da época, a presença em solo nacional foi organizada em províncias, inicialmente divididas por estados: a Província de São Paulo, a Província do Paraná e a Província do Rio Grande do Sul. Posteriormente, as províncias foram temporariamente unificadas sob a autoridade de um único Superior, até a formação das duas províncias que refletiram a expansão significativa da Congregação no país: a Província São Paulo e a Província São Pedro. Mais tarde, com a consolidação da missão na Argentina, surgiu a terceira província, São José.
Desde o início, a colaboração entre as províncias Scalabrinianas foi essencial para o crescimento e expansão da missão. Isso se manifestou em intercâmbios de religiosos, auxílio econômico, apoio mútuo na formação de novos missionários e ações conjuntas em diversas iniciativas missionárias. Um exemplo dessa colaboração foi a presença Scalabriniana na Guatemala, em 1962, sob a responsabilidade das províncias da América do Sul. Além disso, em 1974, foi realizada a abertura missionária em Brasília, com a contribuição de religiosos das províncias São Pedro e São Paulo. Outro exemplo notável foram as casas de formação, nas quais formadores e formandos provenientes dos diferentes países da Região colaboraram para o crescimento vocacional.
São João Batista Scalabrini alertava para o ritmo acelerado do mundo e a necessidade de não nos acomodarmos diante dele. Ele reconhecia que a globalização, com sua ideia de uma "aldeia global", havia provocado uma reorganização geral nas organizações nacionais e internacionais. Assim como as empresas se adaptaram rapidamente, unindo-se e superando fronteiras para aproveitar as oportunidades do mercado global, a Igreja e suas instituições também foram desafiadas a repensar suas estruturas para continuar cumprindo sua missão de forma eficaz em um mundo em constante transformação.
Embora a Congregação Scalabriniana não fosse uma entidade comercial, também precisou se reorganizar para garantir que sua presença continuasse eficaz e significativa. Enquanto a globalização facilitava a comunicação e as viagens transoceânicas, um novo desafio surgiu no campo religioso: a escassez vocacional. Países tradicionalmente ricos em vocações, como a Itália, Alemanha e até o Brasil, começaram a enfrentar a falta de missionários. Paralelamente, a mobilidade humana, impulsionada por novas ondas migratórias, alterou as rotas tradicionais e exigiu que a Congregação estivesse presente em locais estratégicos, com um novo olhar pastoral. Esse cenário de mudanças e desafios foi um dos principais fatores que levou à necessidade de unificar as forças missionárias da Congregação.
Sendo assim, em 1995, o processo de Comunhão das Províncias foi iniciado pela Direção Geral da Congregação, como uma resposta às novas necessidades da mobilidade humana e à escassez vocacional. Após um longo período de maturação e muito diálogo, em 2012, a Assembleia Interprovincial realizada em Guaporé, Rio Grande do Sul, votou a favor do Projeto de Comunhão Scalabriniana para a América do Sul. Foi então que nasceu, ad experimentum, a Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes.
Durante 11 anos, a Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes (RNSMM) passou por um processo de amadurecimento em seu jeito de ser e de servir na América do Sul. Esse tempo foi essencial para que a Região percebesse os desafios e as riquezas que surgiram e que continuarão a surgir dessa experiência única, à qual ninguém estava acostumado. Foram anos preciosos para adotar uma visão mais ampla e compreender que os desafios da mobilidade humana ultrapassam as fronteiras das missões e paróquias. O tempo vivido ad experimentum foi crucial para que as decisões fossem tomadas com serenidade, confiança em Deus e no exemplo do Fundador, respeitando as pessoas e a história que construíram.
O 16º Capítulo Geral, realizado em outubro de 2024, optou pela constituição definitiva da Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes. O Capítulo confirmou o caminho percorrido ao longo desses 11 anos, uma decisão que foi certamente recebida com alegria, pois está em sintonia com o coração missionário da Região, sempre aberto à universalidade carismática. A partir de agora, os religiosos que pertencem à Região agora fazem parte de uma realidade que abrange 7 países, cada um com suas próprias características e exigências missionárias, o que enriquece ainda mais o trabalho e o compromisso com os migrantes.
A confirmação da Região Nossa Senhora Mãe dos Migrantes (RNSMM) é definitiva, ou seja, ela se consolidou como uma Região Missionária que precisará responder aos apelos da Congregação e às necessidades migratórias. Será necessária mais atenção aos sinais dos tempos que a mobilidade humana exige. A RNSMM terá a oportunidade de contribuir na resposta que a Congregação a convida a oferecer, como afirma o Projeto Missionário do 16º Capítulo Geral: “Nossa missão permanece atual porque é necessário opor à retórica impregnada de negatividade uma narrativa que valorize os migrantes; às políticas de exclusão e rejeição, políticas de abertura e apreço; às comunidades onde reina a desconfiança, comunidades fundadas na acolhida; ao clima predominante de indiferença, um contexto fundado no amor pelo outro, aquele amor com o qual somos amados por Cristo” (Projeto Missionário Scalabriniano, 4).
Em sintonia com a Congregação, a Região continuará seu testemunho religioso Scalabriniano, sendo peregrina de esperança, caminhando na caridade em favor de nossos irmãos migrantes, refugiados e marítimos.
Texto: Vitor da Cruz Azevedo, Setor de Conteúdo do Departamento Regional de Comunicação (pesquisa e apoio Oscar Ruben López Maldonado).
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