
A devoção à Imaculada Conceição da Virgem Maria
Esta é uma das principais devoções marianas de São João Batista Scalabrini. Em 1854, o Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição. Em 1866, Dom Scalabrini pronunciou o seu primeiro panegírico sobre a Imaculada na igreja do Santíssimo Crucifixo, na cidade de Como, Itália. Em 1879, convocou os fiéis da diocese de Placência para celebrar o primeiro jubileu da definição dogmática (25 anos) e fez o mesmo em 1904 (50 anos). Para ambas as ocasiões, escreveu uma específica carta pastoral.
Naquele ano de 1879, queria renovar a iluminação da imagem de Nossa Senhora na praça da catedral, mas devido ao período de carestia que a população vivia, se limitou a exortar os fiéis para as práticas de piedade.
Por outro lado, em 1904, anunciou as festas jubilares antes de partir para o Brasil e, de lá, através de uma carta recomendou que se apressassem em fazer todos os preparativos para o dia da festa. Chegou em Placência, de retorno do Brasil, no dia 6 de dezembro e, apesar do cansaço de seis meses de viagens constantes e muitas fadigas, no dia 8 de dezembro, dia da Imaculada, por horas, esteve distribuindo a Eucaristia e pronunciou uma inflamada homilia que alguém chegou a dizer: “Somente os anjos falam assim!”.
Em muitas ocasiões, Dom Scalabrini demonstrou sua devoção à Imaculada Conceição. Fez questão de começar a primeira visita pastoral às paróquias da sua diocese, justamente no dia da Imaculada, para pô-la “sob o válido patrocínio da Imaculada Mãe de Deus (...): motivo de particular consolação e de filial confiança”. Queria que os principais acontecimentos coincidissem com as festas da Virgem Maria, inclusive a conclusão da sua viagem ao Brasil: “como seria bonito terminar a minha peregrinação com uma homenagem à nossa querida Virgem Imaculada e depois partir”.
Portanto, a partir destes recortes de sua história é natural pensar que uma das suas devoções marianas preferidas fosse a da Imaculada Conceição.
Na carta pastoral de 1879, Dom Scalabrini recordou o primeiro jubileu da definição dogmática da Imaculada Conceição de Maria Santíssima e escreveu:
“Nosso século teve vários nomes. Uns o chamaram o século das luzes e do progresso, outros o século do telégrafo e do vapor. Estes, o chamaram o século das ciências químicas e atemáticas; aqueles, o século das discussões e da liberdade. Nós o chamaremos o século da Imaculada! Sim, os outros nomes poderão ser um dia contestados, poderão cair no esquecimento, este nunca. É certo, ó diletíssimos, em que século, mais que no nosso, foi ou poderá ser tão universal, tão vivo, tão apaixonado, o afeto para com a Imaculada Mãe de Deus?
(...) Não terminaria nunca, ó diletíssimos, se quisesse enumerar-vos todos os incomensuráveis bens que o Dogma da Imaculada Conceição trouxe à terra. Olhai a serenidade e a tranquilidade da Igreja na luta presente!
(...) Desafio encontrar-se outra época, na qual a proteção de Maria apareça tão evidente e sensível como em nossa época e a paz interna da Igreja fosse tão grande como aparece, definida a Sua Imaculada Conceição. Na gruta de Lourdes, não foi por ela mesma, a grande Virgem, de sua própria boca e de modo mais incontestável, confirmada a mais excelsa herança do Ministério Pontifical, a Infalibilidade, com as palavras: Eu sou a Imaculada Conceição?
(...) Como a Encarnação do Verbo foi a efusão do perdão e do amor de Deus para o mundo, que havia esquecido de tudo, assim Maria Imaculada, diante do Século XIX é a humanidade regenerada, que volta para os braços de Deus.
Maria Imaculada, diante do Século XIX é a falange encantadora das mais escolhidas virtudes, que, com o aparecimento do Salvador, estende-se sobre a face da terra a tomar posse, exatamente na hora em que todos os vícios a inundam. É a humildade que derruba o orgulho; é a caridade que suplanta o egoísmo; é a pureza que defende a inocência atacada.
Maria Imaculada diante do Século XIX é a vitória completa do espírito sobre a carne; é a emancipação do pecado, da humilhação, da escravidão; é a proclamação da dignidade, da nobreza, da grandeza da natureza humana.
Maria Imaculada, diante do Século XIX é o mais doce conforto dos pobres e dos aflitos. De fato, ela era inocente, por isso não estava sujeita às penas devidas à culpa e, todavia, experimentou a pobreza, as humilhações, as dores mais cruéis, até se tornar Rainha dos mártires.
Maria Imaculada, diante do Século XIX é a salutar lembrança para os ricos não colocarem o afeto nos bens da terra, mas nos do céu e a exercerem, para com os pobrezinhos de Jesus Cristo, as obras da caridade cristã. Ela, embora Mãe de um Deus e amada por Ele mais do que todas as criaturas juntas, não foi revestida de outras riquezas, senão as do céu!
Maria Imaculada, diante do Século XIX estimula os justos a darem grande importância à graça e os pecadores a deixarem o pecado.
Maria Imaculada, diante do Século XIX é, finalmente, o íris da paz, invocada entre as discórdias das famílias, entre os tumultos dos funestos acontecimentos, entre o medo e as ameaças dos mais terríveis perigos.”
Fontes:
Mario Francesconi, Giovanni Battista Scalabrini, Città Nuova Editrice, 1985, pp.380-382.
Scalabrini, uma voz atual, Edições Loyola, 1989, pp.72-75