A devoção a Nossa Senhora Assunta
Aquilo que São João Batista Scalabrini tinha para si com clareza, ensinava aos seus fiéis. Ser devoto de Nossa Senhora só tem sentido para quem “apoiando-se, como a degraus, ao culto dos santos e à Mãe de Deus, querem chegar a Deus”, exortou no seu 1º Discurso do 3º Sínodo em Placência, em 1899. De fato, para ele, a devoção a Nossa Senhora Assunta era o degrau para subir aos Céus, como ela.
A segunda principal devoção mariana de Dom Scalabrini era a Nossa Senhora Assunta, por um motivo bem particular: ela era a titular da catedral e a padroeira da cidade de Placência. Todos os anos, no dia 15 de agosto, dia de sua festa litúrgica, proferia uma solene homilia em honra de Nossa Senhora. Somente por duas vezes não conseguiu realizar este feito, quando esteve em visita aos missionários e emigrantes nas Américas: em 1901, nos Estados Unidos e, em 1904, no Brasil.
Na homilia da festa da Assunção de 1881, Dom Scalabrini exaltou Maria na sua relação com a Santíssima Trindade e chegou a dizer que ela deveria receber três coroas, não apenas uma!
“Quem glorifica a Deus, diz o Senhor, será por Deus, glorificado. E quem mais que Maria, glorificou a Deus sobre a terra? Ela glorificou Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo.
Glorificou Deus Pai, com seu consentimento à Encarnação do Verbo. Fez com que Deus Pai visse o seu domínio dilatado, seu poder aumentado; viu entre os seus súditos, um súdito de perfeição infinita. Em verdade, por causa de sua humanidade, Cristo era inferior ao Pai, e o Pai, de certo modo, veio a ser Deus de Deus, e o veio por Maria.
Glorificou Deus Filho, enquanto a infinita caridade, que nos eternos conselhos o induziu a oferecer-se a si mesmo pelo homem e somente pode satisfazer-se, quando aparece Maria. Se pela geração temporal Ele foi glorificado, o foi exatamente na carne que recebeu de Maria. Glorificou Deus Espírito Santo, quando ela se declarou disponível aos desejos do Altíssimo e o Divino Paráclito desceu para unir n’Ela a alma santíssima do Redentor com seu sacratíssimo corpo, tendo assim, hipostaticamente, unido a adorável humanidade com a natureza e com a pessoa do Verbo Divino. (...)
Portanto, deveria ser glorificada no céu, pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo e deveria ser coroada não com uma, mas com tríplice coroa”.
Ao falar de Maria Santíssima, São João Batista Scalabrini frequentemente a comparava com a Igreja. “Toda a vida da Virgem Maria, os mistérios que se cumpriram nela, as graças que a adornavam, os bens que por meio dela se difundiram, foram vivamente, no dizer de Santo Ambrósio, um tipo, uma figura, uma imagem, quase uma profecia, da Igreja Católica. Maria em si gerava a Igreja”, declarou em sua homilia da Assunção, em 1882. No Natal, os pastores simbolizavam os primeiros crentes, primeiro embrião da Igreja, que se apertavam ao redor de Maria. A fuga no Egito representava o primeiro passo da Igreja na evangelização dos pagãos: foi Maria que levou o Cristo para fora de Israel. No episódio do Templo de Jerusalém, maria conservava as palavras de Cristo, como a Igreja é depositária da Palavra de Deus. No Gólgota, Maria se torna a mãe do apóstolo João, ou seja, da humanidade e, portanto, da Igreja. No dia de Pentecostes, foi necessária a intervenção da oração de Maria, como foi necessário o seu “sim”: esse para o nascimento do Redentor, aquele para o nascimento da Igreja. Na Assunção, a vitória de Maria sobre a morte corresponde à vitória da Igreja sobre as perseguições e sobre os erros que a ameaçam de morte.
Foi justamente através da festa patronal da Assunção que Dom Scalabrini incrementou em sua diocese a devoção filial a Nossa Senhora. Ele insistia, porém, que a devoção devia levar sempre à imitação de suas virtudes, tais como, a fé, a humildade e a obediência. Como aconteceu com a Virgem Maria, para quem a bem-aventurança foi creditada porque correspondeu aos dons recebidos de Deus, assim será conosco: seremos considerados bem-aventurados se correspondermos às graças que cada um recebe.
“Maria chegou a sentar-se no trono da divindade, mas embora Mãe de Deus, ela mesmo não teria chegado lá, sem méritos. Foram os seus méritos e virtudes, que a exaltaram a tamanha glória e nada, senão méritos, poderá conduzir-nos também ao céu. Vivamos, como viveu Maria. Imitemos Maria conforme a medida da graça que Deus nos dá; a seu exemplo peçamos a Deus por intercessão de tão augusta Senhora, sermos fervorosos na oração; humildes nas palavras, nos afetos; resignados ao querer divino nas tribulações; cheios de amor por Deus e de caridade sincera para todos os nossos irmãos, restituindo sempre a todos o bem pelo mal; zelosos pela glória de Deus, pelo triunfo da Igreja, e de seu chefe infalível; operosos e prontos segundo os ditames da fé, a selar mesmo com o nosso sangue, as grandes verdades que Deus na sua misericórdia nos ensinou” (Homilia da Assunção, 1887).
A força da piedade mariana de São João Batista Scalabrini transparece em suas próprias palavras, anotadas em seus propósitos nos retiros espirituais: “Constante e terna devoção a Nossa Senhora: é minha Mãe e tudo me alcançará se lhe serei verdadeiro e sincero devoto”. “Dedicar-me com maior atenção à devoção a Nossa Senhora: jogar-me aos seus pés e em seus braços maternos, todos os dias!”. De fato, todas as manhãs, Dom Scalabrini renovava a consagração a Nossa Senhora, a mesma recitada por São João Berchmans, que lhe transcreveu de próprio punho com a assinatura: Joannes B. Ep. Miser peccator.
Fontes:
Mario Francesconi, Giovanni Battista Scalabrini, Città Nuova Editrice, 1985, pp.382-384
Scalabrini, uma voz atual, Edições Loyola, 1989, pp.69-71.