Aspectos psicológicos no discernimento vocacional

À pergunta se um jovem é chamado à vida consagrada e/ou sacerdotal, pode-se responder somente depois de um processo de busca que, na tradição cristã, chama-se “discernimento vocacional”. A vocação ao sacerdócio e à vida religiosa é fruto de um particular dom de Deus. Como tal extrapola o âmbito da psicologia. Esta não mede se uma pessoa tem ou não vocação.

Contudo, para uma avaliação mais segura da situação psíquica do candidato, de suas atitudes humanas na resposta ao chamado de Deus e para um auxílio posterior em seu crescimento humano, o parecer psicológico é de muita ajuda tanto para os formadores como para o próprio candidato, seja para a diagnose e a eventual terapia dos distúrbios psíquicos, como também contribuindo no apoio para o desenvolvimento das qualidade humanas, especialmente requeridas pelo exercício do ministério e da vida religiosa, proporcionando pistas apropriadas para favorecer uma resposta vocacional livre.

Neste processo o auxílio do diretor espiritual e do confessor é fundamental e imprescindível para superar com a graça de Deus as múltiplas manifestações daquele desequilíbrio que está radicado no coração do ser humano e que se manifesta de modo particular nas contradições entre o ideal de oblação, ao qual o candidato aspira conscientemente, e a sua vida concreta, como também as dificuldades próprias de um desenvolvimento progressivo das virtudes morais. Em alguns casos, porém, o desenvolvimento dessas qualidades morais pode ser impedido por particulares feridas do passado, ainda não curadas, o desconforto de uma mentalidade emergente caracteriza- da pelo consumismo, pela instabilidade nas relações familiares e sociais, pelo relativismo moral, por visões erradas da sexualidade, pela precariedade das opções, por uma sistemática negação dos valores, sobretudo, por parte dos meios de comunicação de massa.

Entre os candidatos podem-se encontrar alguns que provêm de experiências particulares, que de várias maneiras, deixaram feridas ainda não curadas e que provocam distúrbios, desconhecidos no seu real alcance pelo próprio candidato e, frequentemente, por ele atribuí- dos erroneamente a causas externas a si, sem ter, portanto, a possibilidade de enfrentá-los adequadamente. É evidente que tudo isso pode condicionar a capacidade de progredir no caminho formativo para o sacerdócio.

É aqui que o recurso a especialistas em ciências psicológicas, quer antes da admissão ao Seminário quer durante o caminho formativo, pode ajudar o candidato na superação das feridas, em vista de uma cada vez mais estável e profunda interiorização do estilo de vida de Jesus.

Para uma correta avaliação da personalidade do candidato, o especialista - que em sua intervenção deve também levar em consideração o mistério do ser humano em seu diálogo pessoal com Deus, segundo a visão da Igreja poderá recorrer a entrevistas ou a testes, agindo sempre com o prévio, explícito, informado e livre consentimento do candidato.

O auxílio do discernimento sob o ângulo psicológico é necessário, desde o momento em que o candidato se apresenta para ser recebido no Seminário, que o formador possa conhecer cuidadosamente a sua personalidade, as potencialidades, as disposições e os diversos tipos eventuais de feridas, avaliando a natureza e a intensidade. Esse discernimento proporciona ao candidato não cultivar expectativas pouco realistas em relação ao seu futuro e nem enfatizar as suas dificuldades, considerando-as um obstáculo intransponível para o caminho vocacional.

O uso da psicologia no discernimento é necessário em eventuais problemas que constituem um obstáculo ao caminho vocacional, tornando-se de grande benefício para a pessoa, para as instituições vocacionais e para a Igreja, como a dependência afetiva excessiva, a agressividade desproporcionada, a insuficiente capacidade em manter-se fiel aos compromissos, etc.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria.

Concordo