
Todos temos uma vivência espiritual. O modo pessoal e comunitário de nos relacionarmos com Deus que influencia todos os âmbitos da nossa vida. Somos, vivemos e nos movemos, guiados pelo Espírito. A espiritualidade é a vida no Espírito, vivenciada na prática, a partir de alguns valores que a iluminam.
Nesta primeira reflexão, desenvolveremos de modo muito sucinto o tema da Espiritualidade Scalabriniana. Ora, para compreender a Espiritualidade Scalabriniana é necessário conhecer São João Batista Scalabrini, seu carisma e sua vida espiritual.
Este santo homem viveu a sua relação com Deus em uma profunda e intensa intimidade, que pode ser vislumbrada, pelo menos, parcialmente, em seus escritos, em seus gestos, em sua vida de fé. As suas práticas espirituais podem ser sintetizadas no seu amor a Cristo presente na Eucaristia e na Cruz, assim como em cada ser humano, uma presença que se dá também na Igreja, na história humana e, de modo muito particular, na realidade migratória. São João Batista Scalabrini era um homem de ação, no entanto, a sua atuação prática era reflexo da sua profundidade espiritual, ou seja, da sua intimidade com Deus.
O conjunto dessa vivência espiritual é o que expressamos como Carisma Scalabriniano. A palavra carisma está relacionada com o termo graça. Graça é a expressão do amor de Deus, do seu benefício em favor de seus filhos e filhas. Carisma, portanto, é o modo como se evidencia o amor que Deus nutre por cada um de nós. Todas as congregações religiosas na Igreja têm seus carismas próprios, ou seja, cada família religiosa procura testemunhar de modo concreto o amor de Deus. No caso da família scalabriniana – religiosos, religiosas, padres e leigos – o carisma é viver o amor, o cuidado e a proteção dos migrantes, assim como fez e ensinou o seu fundador.
São João Batista Scalabrini, movido pelo Espírito a acolher em si o amor de Deus e a expressá-lo no amor aos irmãos e irmãs necessitados, agiu de diferentes modos na prática desse amor ao logo da sua vida de fé, sempre respondendo ao apelo que sentia em seu coração a favor das necessidades do povo. Preocupou-se com a educação de crianças e jovens, ocupou-se dos surdos-mudos, dos trabalhadores sazonais das plantações de arroz, socorreu a muitos famintos em tempos difíceis, etc. No entanto, o que marcou a sua vida para sempre foi a realidade migratória. Milhares de italianos foram obrigados a se colocarem a caminho, literalmente, a pé, em carroças, em trem, até os portos e dali partirem para outros continentes.
É impossível falarmos do Carisma Scalabriniano sem nos referirmos à paradigmática Estação de Milão. Esta cena, sem dúvida, sintetiza bem o carisma scalabriniano e a Espiritualidade de quem se dedica a aliviar as penas e dissabores dos migrantes. Foi nesta estação que o Bispo Scalabrini sentiu o apelo mais forte de Deus. Tratava-se de uma multidão de pessoas, homens, mulheres e crianças que aguardavam, exaustos, o trem que os levaria ao porto de embarque. Ali o bispo fez um retrato, cuja passagem é um clássico, que começa com o seu olhar místico e compassivo de pastor: “Emigram as sementes nas asas dos ventos...”.
Scalabrini, como o bom samaritano, da história narrada por Jesus, viu, ouviu, teve compaixão e fez. Percorreu a Itália denunciando a realidade absurda que obrigava seus compatriotas a deixarem as suas terras. Organizou leigos preparados para defender os migrantes. Fundou duas congregações religiosas de missionários e missionárias para que acompanhassem e vivessem com os migrantes no seu destino migratório.
A Espiritualidade Scalabriniana, em síntese, é a vivência pessoal e comunitária da relação amorosa com Deus, a partir do Carisma de Scalabrini. É um modo de ser e de viver. Esta vida no Espírito abre o horizonte para os irmãos, particularmente, como queria Jesus, para os mais pequenos, os mais pobres: os migrantes.
Por: Oscar López Maldonado