Mensagem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral por ocasião do Domingo do Mar 2024

Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo,

Na sua primeira carta aos Coríntios, São Paulo descreve a Igreja como um Corpo com muitos membros (cf. 1 Cor 12, 12-27). Ele refere que mesmo o menos visível dos membros de um corpo presta um contributo necessário e significativo para o funcionamento e bem-estar do todo. Os trabalhadores do mar contam-se entre os membros menos visíveis de toda a humanidade, mas é através dos seus esforços ocultos que asseguram muitas das nossas necessidades. Testemunham a beleza fantástica da natureza nos mares, mas também encontram escuridão física, espiritual e social.

Ao reconhecerem anualmente os trabalhadores do mar, no segundo domingo de julho, denominado o Domingo do Mar, as comunidades católicas de todo o mundo chamam a atenção e rezam por todos os que desempenham este trabalho: as tripulações dos navios mercantes, os responsáveis pela atracação ao cais, os operadores de rebocadores, os estivadores e outros trabalhadores portuários, a guarda costeira, o pessoal de controlo do tráfego marítimo e de salvamento, os agentes alfandegários, os pescadores e todos os que colaboram com eles, além das suas famílias e comunidades.

A contagem total destes profissionais e das suas famílias soma seguramente muitos milhões. O Domingo do Mar põe em evidência as suas realidades quotidianas invisíveis. Atualmente, tal como no passado, o trabalho no mar implica, por vezes, a ausência do lar e da terra durante meses ou mesmo anos. Tanto os trabalhadores marítimos como as suas famílias podem perder momentos significativos da vida uns dos outros. O salário pode compensar estes sacrifícios, mas o benefício pode ser ameaçado por injustiças, exploração e desigualdades. Assim, é maravilhoso quando a dignidade e os direitos destes profissionais são defendidos pelos voluntários, capelães e membros das Igrejas locais que se dedicam à pastoral do mar nos portos.

“Longe da vista, longe do coração” é um provérbio que pode ser aplicado à invisibilidade dos trabalhadores marítimos. Falando da tendência para permanecermos distantes e separados uns dos outros, o Papa Francisco afirma: “A verdadeira sabedoria pressupõe o encontro com a realidade … Um caminho de fraternidade, local e universal, só pode ser percorrido por espíritos livres e dispostos a encontros reais” (Fratelli Tutti, 47, 50).

A pastoral do mar pode contribuir de muitas maneiras para dar visibilidade às periferias, como sejam: através do encontro pessoal e em oração com os trabalhadores marítimos, da melhoria das suas condições materiais e espirituais, da defesa da sua dignidade e dos seus direitos e da promoção de relações e políticas internacionais mais abrangentes de proteção dos direitos humanos dos que viajam e trabalham longe das suas famílias e das suas terras natais.

A Igreja é chamada a servir cada membro da família humana e, dado que os trabalhadores do mar provêm de todos os países e credos do mundo, a sua inclusão na vida e no ministério da Igreja permite fortalecer a compreensão mútua e a solidariedade entre todas as pessoas e religiões.

Retiramos força e coragem do exemplo de São Paulo que passou muito tempo no mar, durante as suas viagens missionárias. Uma importante cidade em que a Igreja se implantou foi Corinto, a qual tinha enriquecido consideravelmente graças aos seus dois portos e ao seu canal, sendo um centro ativo de comércio internacional. Os diferentes residentes e visitantes da cidade portuária encontraram os pregadores do Evangelho, o qual ia ao encontro das suas necessidades mais profundas e lhes revelava a sua dignidade infinita. Contudo, a diversidade dos novos crentes ameaçava dividi-los. São Paulo apaziguou estas tensões, recordando-lhes a sua ligação orgânica recíproca e o seu humilde estatuto social comum, dizendo: “Considerai, pois, irmãos a vossa vocação; não há entre vós muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres” (1 Cor 1, 26). Esta palavras encorajam a Igreja atual a trabalhar com vista a uma maior unidade, não só entre pessoas diferentes, mas também entre pessoas que experienciam divisões e tensões mútuas. Como São Paulo nos recorda, a Igreja não pode recusar estes desafios se pretende manter-se fiel à missão que lhe foi confiada pelo Senhor. Por outro lado, uma maior união entre os crentes fomenta uma maior unidade entre povos e países.

O cristianismo foi propagado por mar até terras longínquas; não havia outra opção. A Igreja atual pode inspirar-se nos habitantes das comunidades costeiras que foram os primeiros a escutar a novíssima mensagem de Cristo, transmitida por apóstolos e outros missionários que viajavam por mar. Cada navio que chegava significava mais encontro e partilha, mais abertura à novidade e as imensas possibilidades para além das zonas costeira locais. O chamamento a acolher o estrangeiro pode ser desafiante para nós, quando preferimos permanecer social e espiritualmente isolados. Não estaremos abertos às possibilidades da vida se preferirmos o conforto do familiar. A abertura é um farol de esperança.

Convido cada um a fazer a sua parte para reparar corajosamente a nossa casa comum e crescer em fraternidade e amizade social. Saibamos reconhecer o contributo essencial daqueles cujo trabalho poderia de outro modo permanecer invisível. Saibamos apoiar a missão de acolher os que necessitam de um ouvido amigo e de um local de pertença, um porto seguro, uma comunidade que acolhe todos os que desejam regressar a casa. Deixemo-nos inspirar pelo exemplo das partilhas mútuas que acontecem na vida dos trabalhadores marítimos. Que as pessoas do mar possam sentir-se parte da Igreja, onde quer que se encontrem.

Rogamos a Nossa Senhora, Estrela do Mar, que acompanhe todos aqueles cujas vidas e trabalho estão relacionados com o mar e que seja a estrela que os guia no caminho para Cristo.

 

Cardeal M. Czerny S.J.

Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral


Fonte: https://www.humandevelopment.va/pt/news/2024/domenica-del-mare-2024-messaggio-dicastero-servizio-sviluppo-umano-integrale.html

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