Nos anos de história da Congregação Scalabriniana, houveram momentos importantes que ajudaram a avaliar o caminho realizado como Instituto religioso, além de recolher os frutos produzidos a partir da missão com os migrantes. Diante dos novos desafios postos pelo mundo das migrações, a Congregação soube escutar a voz do Espírito, compreender “os sinais dos tempos” e abrir-se aos novos caminhos apontados pelo Senhor.
Eventos como o Congresso Internacional de Espiritualidade Scalabriniana são ocasiões de grande relevância na vida de um Instituto religioso. Permitem fazer memória das origens e das fontes da espiritualidade, além de constatar como sua práxis de vida. O primeiro congresso aconteceu na Itália, em 1996, Roma e Placência, com o duplo objetivo: resgatar a história da Congregação, considerando a espiritualidade de Scalabrini, marcada pela Cruz, pela Eucaristia e pela devoção à Nossa Senhora; e fazer uma leitura da espiritualidade dos Scalabrinianos nos cinco continentes a partir de diferentes testemunhos apresentados pelos participantes.
“Caminha humildemente com teu Deus” (Mq 6,8) foi o lema do primeiro congresso. Era a inspiração bíblica necessária para avaliar o caminho congregacional desde as suas origens e, ao mesmo tempo, o convite a colocar-se, sempre de novo, a caminho. Aquele lema evoca com muita força o “Humilitas” que identifica a Congregação Scalabriniana. Note-se também que, o congresso aconteceu um ano antes da beatificação de Scalabrini, celebrada em 9 de novembro de 1997, devolvendo um interesse genuíno pela figura do nosso fundador.
Em outubro de 2023, um ano após a canonização de Scalabrini, celebrada em 9 de outubro de 2022, realizamos o II Congresso de Espiritualidade Scalabriniana. É uma feliz coincidência. Foi o último Capítulo Geral de 2018 que determinou a sua realização. Se em 1996, já se constatava a emergente diversidade cultural ao interno da Congregação, muito mais se verifica hoje. Essa constatação motivou a escolha do lema deste congresso: “Eu virei para reunir todos os povos e línguas” (Is 66,18).
No momento histórico em que vivemos como Congregação Scalabriniana, o congresso de espiritualidade não pretende voltar à história da vida ou espiritualidade pessoal de Scalabrini, pois temos certeza que ele a viveu em profundidade e com exemplaridade. Hoje precisamos encontrar a identidade que a Congregação tem criado, no âmbito da espiritualidade. Os últimos anos provocaram, ao interno da nossa Congregação, uma mudança cultural nos membros, que sem dúvida, possibilitaram novas formas de manifestar a nossa espiritualidade. Reunidos na mesma família religiosa, provenientes de diversos povos e línguas, somos desafiados a identificar e fortalecer o eixo central e vital que nos une.
A comunicação das experiências de espiritualidade scalabriniana vividas nos diversos países, continentes e culturas através dos depoimentos, testemunhos e partilhas, será fundamental para construir nossa identidade de Missionários dos Migrantes. Esta temática já foi alvo de reflexão no primeiro congresso: “os valores de uma cultura são vitais enquanto são vivificados pelo fundamental valor da abertura, do reconhecimento do outro e da comunicação. Na cultura ocorre uma espécie de Pentecostes pelo qual as diversas línguas, as diversas culturas, tendem a dizer o mesmo conteúdo e é esse conteúdo que faz com que cada língua se torne comunicação para o outro” (Maria Campatelli, No coração da espiritualidade da cultura: “Tu és”, em Atos do Congresso Internacional de Espiritualidade Scalabriniana 1996). Aparece aqui traços de um caminho que vai se delineando ao longo da nossa história e que, certamente, será bem mais definido e claro após o II Congresso de Espiritualidade Scalabriniana.