Padres que acolheram Scalabrini em 1904 (Parte VI): Pe. Antonio Seganfreddo (1851-1912) | Um migrante entre os migrantes

Por ocasião dos 120 anos da visita do Santo Fundador, Dom João Batista Scalabrini ao Brasil, hoje vamos conhecer um missionário Scalabriniano que fez primeiro a experiência de ser imigrante no Rio Grande do Sul e depois sacerdote. Este religioso recebeu com carinho o Fundador na cidade de Capoeiras (Nova Prata) em 1904. O bispo permaneceu nesta missão durante três dias, inaugurou a nova Igreja, crismou e atendeu os seus migrantes com cuidados paternais.

O Pe. Antonio Seganfreddo nasceu em Mason (Vicenza) em 16 de junho de 1851. Encontra-se entre os missionários scalabrinianos pioneiros enviados ao Brasil. Ele, porém, veio antes como imigrante, ainda muito jovem, experimentando todas as difíceis condições que os emigrantes enfrentam. Ciente da situação, sentiu o ardente desejo de ajudar, de fazer alguma coisa pelos migrantes.

Com o seu trabalho conseguiu poupar para retornar a Itália com a intenção de se tornar sacerdote e depois se dedicar à assistência dos migrantes. Ingressou no Instituto Mander em Onè di Fonte (Treviso), onde também estudavam Faustino Consoni, Natal Pigato, Pietro Dotto e Marco Simoni, todos futuros missionários no Brasil. Depois que o Instituto foi fechado, ingressaram na Congregação dos Missionários de São Carlos, em 1892. Pe. Antonio foi ordenado sacerdote pelo Santo Fundador, São João Batista Scalabrini, em 31 de março de 1895, aos 43 anos. Em julho de 1895, retornou ao Brasil.

Em setembro de 1896 se apresenta ao bispo de Porto Alegre, convertendo-se, assim no segundo missionário Scalabriniano nesse território. Foi enviado imediatamente a Alfredo Chaves, depois o bispo lhe confiou a extensa missão de Capoeiras (Nova Prata), Turvo (Protásio Alves) e Campos de Lagoa Vermelha. Tratava-se de uma área pastoral difícil devido à sua vastidão, à falta de estradas e até mesmo pela composição populacional (italiana, brasileira e polonesa). Padre Antônio dedicou-se com zelo e amor, independentemente dos sacrifícios e trabalhos. Em 1898 começou a construção da igreja matriz, que foi inaugurada por Dom Scalabrini nos dias 29 e 30 de setembro de 1904. Os Scalabrinianos devolveram esta paróquia à Diocese em 1918.

Em 1904, quando Dom Scalabrini visitou o Rio Grande do Sul, o Pe. Antonio Segranfreddo o acolheu na sua missão em Capoeiras (Nova Prata). Então, Dom Scalabrini escreveu sobre a extensão do lugar da missão de Pe. Antonio: “Essa missão é extensa como uma de nossas dioceses, com 20 capelas; prevê-se para breve um crescimento muito grande da população. Agora tem aproximadamente 10 mil habitantes. O padre Seganfreddo tem necessidade urgente de um companheiro. Imagine que para chegar de um extremo ao outro da missão são necessários quatro dias a cavalo; e muitas vezes ao chegar de um lado é chamado para o outro, sempre distante”.

Esse cenário pastoral mostrado pelo Santo Fundador levou o Pe. Seganfreddo a um desgaste físico e a sua saúde foi prejudicada. Mesmo assim não descansou. Um testemunho histórico interessante, que além de mostrar a realidade de algumas famílias de imigrantes que chegavam ao Brasil, mostra o compromisso do Pe. Antonio Seganfreddo com seus compatriotas que foi enfrentar um fazendeiro em Minas Gerais para resgatar uma família em condição de escravidão.

“Os membros de uma das famílias Seganfredo, que vieram ao Brasil em 1887, (...) quando chegaram ao Brasil, sem saber a língua portuguesa, sem ninguém a esperá-los para conduzi-los ao Rio Grande do Sul, acabaram sendo enviados a Minas Gerais em uma fazenda de café. Uns dois meses depois, o Pe. Antonio Seganfreddo ficou sabendo e foi resgatá-los das mãos de um fazendeiro de café, que mal lhe pagava a comida, e dormiam em uma senzala. A avó Catterina contava esta história” (Fonte: https://anaferriseganfreddo.blogspot.com/).

Após 14 anos de atividade extenuante a saúde do Pe. Antonio piorou, ao ponto de se ver necessitado de retornar à Itália para cuidar da saúde em 1911. No entanto, não resistiu ao chamado missionário e retornou ao Brasil em 1912. Era capaz de se sacrificar ao máximo pelos seus emigrantes, estava feliz em oferecer a sua vida por todos. Poucos meses depois, faleceu em Porto Alegre, em 23 de dezembro de 1912. Tinha 61 anos.

A seguir, o testemunho do Venerável Mássimo Rinaldi: “Eu, que testemunhei seu laborioso apostolado durante dez anos e pude admirar seu zelo e amor ao próximo, posso afirmar com certeza que a memória dele será uma bênção especialmente para nossos compatriotas... Em nossa tristeza pela perda de um irmão tão querido, que sejamos confortados pelo pensamento de que ele, tendo colocado em prática os sentimentos zelosos de nosso Santo Fundador, assim como foi capaz de conquistar a gratidão dos homens, agora terá alcançado a recompensa do Céu”.

Pe. Antonio Segranfreddo foi um migrante missionário, um vocacionado adulto, que viveu a realidade dos migrantes e quis se tornar sacerdote para servir esses próprios migrantes. A sua vida foi uma vida entregue na radicalidade do serviço, desgastou-se completamente até o extremo. Expressou a amor a Cristo e aos irmãos na concretude da vida. Um homem de Deus, exemplar, um missionário do amor.


Igreja atual da Paróquia São João Batista e Nossa Senhora Aparecida de Nova Prata - RS, cuja semente foi plantada pelo Pe. Seganfreddo

 

Oratório que serviu de Igreja nos primeiros tempos em Turvo (Protásio Alves), acompanhado nos seus primórdios pelo Pe. Seganfreddo


Texto: Oscar Maldonado

Fotos: Acervo Regional - RNSMM

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