Padres que acolheram Scalabrini em 1904 (Parte IX): Pe. Pietro Dotto (1857–1933)

Por ocasião dos 120 anos da visita do Santo Fundador ao Brasil, conheceremos nesta ocasião o missionário Scalabriniano que trabalhou primeiro no Estado de São Paulo, e nos Estados Unidos, depois, Pe. Pietro Dotto. Este sacerdote acolheu o Fundador, São João Batista Scalabrini, em 1904, no Curato de Cascalho, interior de São Paulo. O bispo visitou os imigrantes italianos, celebrou, e teve uma ótima impressão deles e do seu missionário.

Pietro Dotto nasceu em Treviso, Itália, em 15 de agosto de 1857. A vocação religiosa teve de ser adiada por circunstâncias familiares que não permitiram que ingressasse no seminário ainda criança como era comum na época. Tão somente aos 30 anos de idade, iniciou seus estudos eclesiásticos no Instituto Mander, em Onè di Fonte. Este Instituto fora criado precisamente para as vocações adultas e para os jovens de escassos recursos. Foi companheiro de outros importantes missionários Scalabrinianos como os padres Faustino Consoni, Natale Pigato e Marco Simoni.

Ingressou na Congregação dos Missionários de São Carlos em 03 de maio de 1893 e foi ordenado sacerdote pelo próprio Fundador, São João Batista Scalabrini, em 19 de julho de 1896.

Após completar seus estudos, em 1898 foi enviado como missionário ao Brasil, para trabalhar no Estado de São Paulo. Além de ter feito a experiência de todos os missionários destinados nesta região, a de visitar as fazendas para encontrar os imigrantes italianos, também teve o trabalho paroquial em Cascalho, onde permaneceu por oito anos.

Em 1904, quando Dom João Batista Scalabrini visitou o Estado de São Paulo, o Pe. Dotto se encontrava em Cascalho. Desde 1902 o Pe. Dotto estabelecera a sua residência nesta comunidade. Tratava-se de um pequeno povoado no interior de São Paulo, que certamente serviria para os missionários, que teriam um lugar para descansar na ida e volta das missões nas fazendas.

Pela carta que o Pe. Dotto escreveu ao Pe. A. Demo, ficamos sabemos detalhes da visita de Dom Scalabrini naquela região, que aconteceu no final do mês de julho e no começo do mês de agosto de 1904. O Bispo ficou admirado com a formação católica dos italianos. Falou diversas vezes ao povo, crismou mais de 800 pessoas e no dia seguinte celebrou a Santa Missa, dando em seguida a Bênção Apostólica.

Assim escreveu o Pe. Dotto: “No mês passado, tivemos a preciosa visita de Dom Scalabrini, nosso Superior Geral e Fundador, que ficou muito edificado com a acolhida e a concorrência e o povo saiu muito entusiasmado pela afabilidade e gentileza do Bispo. Pode-se dizer que aqui teve uma melhor impressão de todo São Paulo, porque o senhor deve saber que o jacobinismo reina supremo aqui no Brasil e, portanto, não há muita simpatia pelos estrangeiros. Sua Excelência também disse em público e em particular que se sentia como se estivesse em uma paróquia na Itália. Quanto a mim, estou feliz por estar aqui, mas não sei se vai durar, porque agora o Pe. Faustino foi eleito Provincial, então ele pode fazer algo novo. O Superior Geral seria da opinião de formar aqui uma filial de São Paulo, estabelecendo dois ou mais missionários, o que seria muito mais conveniente para viajar pelas Fazendas; mas não sei se eles vão implementar isso” (Carta do Pe. Pietro Dotto a P. A. Demo, Cascalho, 14.9.1904 (Arch. G.S., 403).

Dom Scalabrini deixou registrado no Livro Tombo da Paróquia de Cascalho a sua impressão e seu agradecimento: “Acolhido com sinais de muita alegria pela colónia italiana de Cascalho, a quem mais uma vez agradeço, e de quem nunca mais esquecerei, o dia seguinte celebrei a Santa Missa, suplicando a Deus muitas e supremas graças e bênçãos especiais para todas as famílias e para os numerosos crismados. Adeus, irmãos! Até à vista, no Paraíso”.

O Pe. Pietro Dotto permaneceu em Cascalho até outubro de 1911. No seu lugar assumiu o Curato o Pe. Luigi Stefanello, onde permaneceu por mais de 40 anos. O Pe. Dotto foi transferido para o Orfanato Cristóvão Colombo de São Paulo, dedicando-se para a manutenção da casa até 1919. Nesse ano foi transferido para os Estados Unidos para trabalhar com os imigrantes italianos, onde permaneceu por 14 anos.

Na missão, durante uma divertida conversa com os coirmãos, faleceu repentinamente a 19 de maio de 1933. Viveu de modo modesto e obediente no serviço aos migrantes, faleceu, da mesma forma, de modo silencioso. Era admirado pela sua austeridade e simplicidade, ao mesmo tempo era amável e cordial, querido por todos.

No Brasil, especificamente no Estado de São Paulo, foram mais de 20 anos de doação missionária, concretizada no amor aos imigrantes, e às crianças órfãs por quem se empenhou para que nada lhes faltasse. Encontra-se entre os missionários pioneiros que ajudaram na formação e no fortalecimento da Congregação dos Missionários de São Carlos, Scalabrinianos, no Brasil.


Igreja de Cascalho, anos 40


Texto: Oscar Maldonado

Fotos: Acervo Regional - RNSMM

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