Para viver a dimensão do “fazer-me tudo para todos”, um dos princípios de vida de São João Batista Scalabrini, é necessário ter uma espiritualidade de ação. Esta exige disciplina e esforço para buscar Deus que se manifesta em atos de amor, como nos fala o apostolo Paulo: “com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo” (1Cor 9,22). Paulo vive a liberdade radical, que o leva a tornar-se disponível, solidário, próximo para com todas as pessoas.
A vivência da vocação, em nossa vida, exige de cada um, pobreza espiritual. É Deus que vem a nós para nos chamar. É imprescindível criar momentos e espaços para que Deus possa estar em nós. É ter um espírito de pobre para que isso aconteça. É um processo de libertação para discernir cada vez melhor. É libertar o centro de nós mesmos para que Deus o habite.
A vocação se torna consciente através de uma vida de oração cotidiana e encarnada, pois orar é uma atividade específica da pessoa humana e de mais ninguém. Os evangelistas registram importantes encontros de Jesus com o Pai. A própria Sagrada Escritura nos ensina a rezar com a nossa vocação nos diversos ambientes e lugares: no templo (2Rs 19,4), no campo (Gn 24, 11), na montanha (Gn 28, 16), enfim, podemos rezar pela nossa vocação no cotidiano de nossa vida.
Ao falar do testemunho vocacional de São Scalabrini, assim como de sua espiritualidade e de todos aqueles que vivem e viveram o carisma da acolhida para com os migrantes, é evidente a capacidade de traduzir o amor a Deus e sua compaixão pela pessoa humana. Eles foram capazes de viver na sua época o que o Papa Francisco nos fala hoje: “Nunca deixem alguém na periferia do seu coração. Não devemos ter medo da proximidade, da bondade e da ternura. Sigam em frente, abram as portas e façam algo ali onde a vida clama”.
Somos chamados a viver a nossa vocação cada dia, na atualidade, do jeito que somos, buscando, fortalecendo e expressando nossa espiritualidade de acolhimento. Aprender que a acolhida, a misericórdia, a bondade e a ternura devem perpassar nossa vida pessoal e comunitária e apostólica, pois a vivência e o testemunho destas virtudes, junto aos migrantes, são sinais vivos e eficazes de um encontro profundo com Deus e com os irmãos.
Que possamos centrar a nossa vida e missão, na vida e missão de Jesus Cristo Peregrino e nos deixemos guiar pelo Espírito Santo. Que Maria, a Mãe dos Migrantes, se aproxime de nós, para nos acompanhar ao longo da vida e nos auxilie em nosso discernimento vocacional, e que São João Batista Scalabrini nos ajude a sermos “tudo para todos”, buscando assim a vontade de Deus para nossas vidas.
Por: Pe. Adriano Pires, CS